O chamado “mecanismo de escrutínio prévio” que António Costa pretende utilizar para tentar evitar novos erros de casting na escolha de futuros membros do Governo, parece ser uma ideia malparida.
Os membros do Governo, dos assessores aos ministros, do pessoal administrativo aos de nomeação política, nenhum aparece nos gabinetes do Governo através de concursos públicos. São escolhidos. Ora, sendo escolhidos, são conhecidos. A maioria é, aliás, proveniente das estruturas partidárias e quando chegam a um lugar no Governo já passaram pelos diferentes crivos das concelhias, distritais, comissões políticas e outros apadrinhamentos que tais dos partidos que chegaram ao poder. Os chamados “erros de casting” são difíceis de aceitar… Provavelmente, não são erros.

Admitamos que alguns dos escolhidos possam ter percursos profissionais sem influência política. Mesmo nesses casos, algumas das 36 questões elencadas são redundantes. Bastaria uma olhadela à declaração de IRS da pessoa em questão. Nos casos de inquéritos judiciais ou de sentenças proferidas, talvez a verdade possa ser obtida na Procuradoria-Geral da República. No caso de percursos profissionais em empresas públicas, o Estado tem obrigação de saber quem contratou para as suas empresas.

Por mais perguntas que se façam, o putativo membro do Governo pode sempre manipular as respostas a seu favor. Aliás, a última pergunta do questionário é elucidativa. Pergunta-se se têm “conhecimento de qualquer outro facto não identificado e que seja suscetível de afetar as condições de isenção, imparcialidade e probidade para o exercício do cargo para que está proposto, ainda que ocorrido há mais de três anos”.
De qualquer forma, as respostas ao questionário podem ser aldrabadas que não haverá ninguém para detetar os erros e omissões. Até que alguém passa a informação à Polícia Judiciária ou a algum jornal.
