Servido assim a frio, este será o primeiro “osso” que teremos de “roer” se almejarmos o estatuto de Estado Moderno, em que as Instituições são avaliadas e valorizadas por critérios bem definidos e os direitos e deveres de cada cidadão são regulados por práticas equilibradas e transparentes.
Um osso tão mais duro de roer, sobretudo porque, de momento, a incompetência e o nepotismo se “vulgarizaram” na Administração Pública e os professores se veem atropelados por quem, ardilosamente acastelado entre ruínas, silencia com afã quantos ousam pensar Portugal.
A atividade formativa foi uma constante da minha vida, e também explorador por conta própria dos tortuosos meandros da política, empenhar-me-ei em promover uma análise isenta e lúcida, de onde se possam retirar conclusões assertivas.
Com a “Educação Nacional” a arder numa fornalha, e desmotivados muitos dos seus melhores quadros técnicos, prioritário se torna perceber como foi possível chegar a tais extremos, inadmissíveis em qualquer sociedade livre e civilizada.
Não me interessa “malhar” mais na voracidade da clique política e administrativa instalada, que despreza os portugueses enquanto preza influências e se desfaz em favores. Logo pelo preâmbulo se percebe que os Magistérios da Educação, e também o da Cultura, me merecem um “valente chumbo em quase todas as disciplinas”. No entanto, se quisermos entender as razões da implosão destes dois setores vitais, há que reconhecer um velho princípio: se é verdade que se dança consoante a música, também ninguém baila se não tiver par.
Será difícil evitar melindres, sobretudo quando a ira distorce o pensamento de muitos educadores, mas há que reconhecer que só chegámos ao estado de calamidade atual, porque a governação gozou do “privilégio” de enfrentar uma classe manietada, incapaz de se impor enquanto organização credível e se constituir num exemplo incontornável de promoção da qualidade profissional e da meritocracia.
Acomodados, e sempre em queda de “estatuto social”, ainda hoje muitos professores não entendem que se encontram prisioneiros de uma “cultura” dirigida por sindicatos reivindicativos, igualmente destorcedores dos acertos que as evidências impõem. Distanciada do seu papel, alguma vez a classe se empenhou, com seriedade, em temperar esta tendência sindical, certamente legítima, com a constituição de uma Ordem reguladora, tal como quase todas as demais áreas profissionais, algumas bem menos relevantes e representativas?
Pelo contrário, emaranhada num corporativismo estreito, ainda hoje se encontram por definir as regras de acesso e os mínimos necessários à continuação do exercício da atividade. E assim se caiu na vulgarização de uma classe que, concomitantemente, se deveria ter mobilizado para o escrupuloso cumprimento da sua importante missão, promovendo o conhecimento, a cortesia e a ética profissional, motores incontornáveis da sua valorização humana e profissional.
Sobejam os maus exemplos de realidades que envergonham os bons professores, e muitos são, aqueles que honram uma classe digna. Dispensemos a análise da qualidade de ensino de uma Escola Pública em permanente degradação e que regista o maior índice europeu de baixas médicas. Dispensemos também a inexistência de critérios na avaliação de professores e consequentemente dos alunos. Centremo-nos em algumas questões ditas “laterais”.
Se até a Igreja Católica pediu perdão pelos seus erros, alguma vez vimos a “Instituição Professores” a condenar qualquer falha grave de algum dos seus pares, muitos envolvidos em escândalos públicos? A “descoberto” da chamada liberdade sexual e de género, alguma vez a classe, no seu todo, reagiu contra os excessos cometidos por predadores pedófilos, alguns em exercício? E quantas vezes ousou denunciar a “balda” que reina em muitas escolas?
E com estas curtas perguntas me fico, na esperança de que “deus ilumine os nossos governantes” e que a sensatez impere em Escolas Públicas, que consigam garantir condições para alcançar o esplendor de outrora.
Os portugueses, incluindo alunos e professores, merecem um futuro decente. Desiderato que, reafirmo, passa pelo reconhecimento e reforço das nossas elites, hoje subjugadas a mesquinhos interesses políticos e económicos, a que urge pôr cobro.