“Eirozes do mar, nobre povo”…

Eirós = enguia. O humor da criançada.

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Portugal existe há 880 anos, como entidade política. Um espaço geográfico, com fronteiras aceites pelos demais (nem sempre de boa vontade) e com um Governo próprio. O povo que aqui habita nunca foi homogéneo, sempre fomos alimentados e sugados por movimentos migratórios que tanto trazem gente como nos desertificam.

A História que inventaram para ajudar a amalgamar uma população tão diversa, criou mitos e heróis lendários que, em muitos casos, não passam mesmo de invenções. E os símbolos, as bandeiras, os toques de corneta, as cançonetas e o vinho ajudam à emoção, ao sentimento. Com o passar do tempo, os hábitos impostos tornam-se costumeiros. É a tradição.

Quando Dino de Santiago fala na necessidade de mudar o hino nacional, não está a dizer nada de novo. Já outros o disseram. António Alçada Baptista, Comissário das Comemorações do Dia de Portugal durante uma década, pelo menos, foi o primeiro a atrever-se a falar nisso alto e bom som.

“A própria letra do nosso hino nacional não parece adequada à nova civilização, e que não pode ter nenhum eco no coração da juventude, invocar a vitalidade da Pátria gritando às armas e propondo marchar contra os canhões”… disse o Comissário do Dia de Portugal no seu discurso solene em 1997. Está tudo no arquivo da RTP.

Dino de Santiago não disse outra coisa, agora, 26 anos passados. O atual hino foi escrito no estertor da monarquia portuguesa, foi uma espécie de canção de protesto no final do século XIX. Depois da revolução republicana, a canção foi adotada como hino nacional para substituir o hino monárquico. Foi uma decisão política muito contestada na época, havia outras propostas de diferentes quadrantes político-partidários.

Com o tempo, a letra do hino foi até ligeiramente modificada, para não ofender “amigos” de longa data. Originalmente, a letra apelava ao patriotismo com o “contra os bretões marchar, marchar”. Os protestos diplomáticos dos ingleses levaram a trocar a palavra bretões por canhões. Ficou uma espécie de apelo ao suicídio coletivo. Podia ser diferente? Podia.

Hoje, os adultos falam muito severamente sobre estas coisas. Com facilidade partem para o insulto, quando não encontram outros argumentos. Noutros tempos, quando eu era miúdo e na escola me fizeram decorar a letra do hino, lembro-me de como a miudagem gozava com a coisa: “eirozes do mar, nobre povo, maçã reineta imortal, levantai hoje de novo, as cuecas do general”…

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