Ser ou não ser… senhora ministra!

Como é? Governante acusado de branqueamento de capitais, suborno, corrupção activa, apropriação indevida de valores, lavagem de dinheiro, burla qualificada?… Que procissão! Que profissão! Fartos destas frases, que até já quase conhecemos de cor... vamos de abalada ao teatro!

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Ao teatro? Para aí ouvirmos isso de novo? Não! Vamos ao Mirita Casimiro, porque a trama de Sr.a Ministra não fala disso, embora pudesse falar. As senhoras são mais eloquentes e espertas e preferem usar doutros meios para obter os fins em vista.

Sim, vamos ao teatro para.. rir! E Carlos Avilez e toda a equipa lançaram mãos a todos os ingredientes para nos despertarem uma boa gargalhada e dali sairmos bem dispostos, de olhos cheios de cor e música e danças e… mui agradáveis mexericos.

Como assim?

É que, pelos finais do século XIX, em Portugal – sim, escrevi « pelos finais do século XIX, em Portugal», não me enganei – houve um período de uma certa agitação política, os governos não se mantinham muito tempo no poder, havia intrigas, quezílias partidárias ao rubro e, por isso, a cada dobrar da esquina do tempo, havia necessidade de remodelações ministeriais. Quem vai para ministro? O teu marido ou o meu? O meu, com certeza, tem mais hipóteses e eu vou ser «ministra», amiga, «senhora ministra!». E a outra torcia o nariz, querem ver lá esta lambisgoia, espera aí que já te faço a cama!

Pois não conto como é que a cama foi feita, que o Mirita Casimiro anda sempre desejoso de lotação esgotada e de oferecer um bom pretexto para rir, mormente se o espectador não deixar o mundo real cá fora (deixe, deixe, que lhe faz nem!). Se não deixar, temos pena! Há de fazer um esgar, ou esboçar um sorrisinho amarelo. Esqueça! Divirta-se!

O quê? Assustou-se com aquele estranho barulho? É um actor que vai entrar em cena e não pode passar despercebido, a sua entrada não se faz anunciar por mordomo mas por um estrondoso baque em qualquer parte.

E assim, entre baques, vestidos e fatos extravagantes (que fantasioso é o guarda-roupa!), chiliques, danças de muita risada, se castigant mores, como os Antigos sempre disseram ser a função da comédia: fustigar os costumes com o chicote do riso!…

Mas, amigo, vossemecê quer acabar com isso a sua crónica? Não fala do desempenho dos actores, mormente dos não-habituais, como a conceituada Joana Pais de Brito, a azougada Flávia Gusmão, a surpreendente Carolina Faria? Não se refere ao fantástico cenário do Alvarez? E aquele jeitoso jeito de um dos actores subir e descer as escadas? E, claro, da juventude manifestada pelo encenador Carlos Avilez ao dirigir com maestria os actores, a fazer-nos lembrar O Comissário de Polícia ou A Maluquinha de Arroios?

Não, não me refiro. Sei que faço mal. Tenho preguiça e, sobretudo, zanguei-me: bonito, erudito, eloquente, sábio é o conjunto de textos de apoio que nos é facultado, para esta Sr.ª Ministra, do português Eduardo Schwalbach (1860-1946), adaptado por Renato Pino; mas… cadê a ficha técnica desta 173ª produção do Teatro Experimental de Cascais? Protesto!…

Está bem, reconsidero. Faço um esforço, vou à página do TEC no FB e recorto:

  • cenografia | figurinos FERNANDO ALVAREZ
  • desenho de luz RUI MONTEIRO
  • composição canções JOÃO PAULO SOARES
  • letras canções RENATO PINO
  • coreografia CLÁUDIA NÓVOA
  • desenho de som surround HUGO NEVES REIS
  • assistência de encenação MARTIM MESQUITA GUIMARÃES
  • direcção de cena RODRIGO ALEIXO
  • direcção de montagem RUI CASARES
  • execução de figurinos ROSÁRIO BALBI
  • chapéus LUÍS STOFFEL
  • produção RAUL RIBEIRO
  • interpretação CAROLINA FARIA, FLÁVIA GUSMÃO, JOANA PAIS DE BRITO, LUIZ RIZO, MIGUEL LOUREIRO, RENATO PINO, RITA LOUREIRO, RODRIGO TOMÁS, SÉRGIO SILVA, TERESA CÔRTE-REAL e TOBIAS MONTEIRO.

Todos, todos, a merecerem o nosso aplauso! E prémios! Prémios! Que para tristezas já nos basta o teatro quotidiano da vida! É essa, a da vida, uma boa peça, é, mas a raiar o drama; comédia, agora, dá-nos muito mais jeito!

Sr.ª Ministra está em cena até 18 de Dezembro.

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