O Facebook filtra palavras e imagens. Por exemplo, uma obra de arte que exiba os seios de uma mulher pode ser censurada, normalmente é. Mas o filtro (chamado algoritmo) não sabe diferenciar uma imagem de pornografia de uma pintura clássica, por exemplo. Censura tudo de modo igual.
O pudor em relação aos mamilos femininos é um preconceito cultural norte-americano. Na Europa não existe. No entanto, o Facebook aplica o mesmo filtro, seja na Europa ou na América do Norte.
Dirão que é uma maneira de evitar a promoção da pornografia e da prostituição. Mas duvidamos quando, no Messenger, a rede associada ao Facebook, se permitem esses “pecados”.

Onde o algoritmo censório é mais aplicado é na palavra. O alarme soa em Menlo Park, Califórnia, se em Lisboa escrevermos, por exemplo, “matar”. Ou “bombardear”. São exemplos do que acontece com frequência. Na pesquisa que fizemos, encontrámos alguém que escreveu, numa troca de comentários, “No Iémen e na Palestina, os campos são pelados, não cumprem os requisitos mínimos da FIFA, podem ser bombardeados”.

O autor desta frase ficou bloqueado 28 dias. Raramente o Facebook admite que o algoritmo errou. Mas a verdade é que o filtro não apreende o contexto da frase, não lê para trás, não entende ironia nem sarcasmo. Retira a frase do contexto, aplica a multa. No caso em apreço, quem a escreveu protestava contra um bombardeamento israelita que destruiu um campo de futebol em Gaza. A frase pretendia ser sarcástica, devia ser interpretada como crítica. Para entender isso, teria sido necessário que o algoritmo fosse inteligente. E não é.
O “campeão” dos bloqueios
Carlos Augusto Almeida corre o risco de ser o português mais bloqueado do Facebook, ainda em atividade nesta rede social. “Seguramente mais de 100”, assegura.
Perguntámos se os bloqueios se relacionam com alguma temática em particular? Temas políticos? Sociais? “Sempre por questões sociais, alertas, críticas seguidas de argumentos corretivos, etc.” responde Carlos Almeida, que nos explica que “nunca abordo questões partidárias, todas as minhas publicações, partilhas, comentários e gostos, são apartidárias. A minha política é unicamente destacar, opinar, argumentar e mobilizar para ações populares construtivas e transversais.”
Pedimos-lhe exemplos. Respondeu-nos: “Políticas florestais de Portugal, sou contra as contínuas e extensivas monoculturas de eucalipto e pinheiro bravo, minas a céu aberto ou em galeria, todas sempre junto a lençóis freáticos, rios, albufeiras e lagos naturais.”
Considera o termo “censura” indicado para estas questões, ou aceita que o Facebook age no interesse da comunidade, como normalmente argumenta a rede social? “Sim, o termo adequado é censura,” responde.
Na opinião do nosso interlocutor, o Facebook defende os interesses dos grupos económicos e pratica uma política de pensamento único. Qualquer um que pratique um discurso fora da caixa, contra o pensamento dominante, corre o risco de ser bloqueado. Basta que surjam queixas contra a publicação.
Carlos Almeida acredita que “a maioria das vezes são perfis falsos ao serviço de lobbies e partidos políticos, mas também alguma inveja de utilizadores, unicamente por pensar fora da caixa.”
Carlos Augusto Almeida trava uma luta desigual com a mais poderosa organização de comunicação do mundo. Nunca fez queixa do Facebook aos organismos que têm por missão defender os direitos dos consumidores ou o exercício da liberdade de expressão e de opinião. Porque com a META (a empresa dona do Facebook) “ninguém mete a colher, nem mesmo governos eleitos democraticamente pelos cidadãos”, diz Carlos Almeida. É como se o sr. Zuckerberg fosse o dono-disto-tudo.
Enquanto não o expulsarem, ele continua no Facebook, onde se identifica com um cartaz vermelho que diz BLOCKED (bloqueado).
