“Quando me virem, chorem”, é um aviso gravado na pedra há 5 séculos e que se mantém válido. O aviso está gravado em pedras que foram embutidas nas margens do rio Elba em 1616. Nessa época, uma seca severa afetou a Europa central e morreram muitas pessoas de fome.
Agora, as pedras reapareceram. É um presságio terrível para o futuro próximo da Europa, afetada pela seca, ondas de calor prolongadas e uma guerra que está a dar cabo da economia.

O povo chama a estas pedras, “pedras da fome”. São um registo histórico do que se passou naquele tempo. Há outras pedras idênticas, tanto no Elba como noutros rios da Alemanha. Todas representam avisos de grande medo e preocupação. E é bom levar em linha de conta esses avisos. Aprender com o passado ajuda a prevenir desastres futuros. A questão é saber se temos tempo para prevenir seja o que for.

O rio Elba é um dos maiores rios da Europa com mais de 1300 quilómetros da nascente, na República Checa, até à foz na Alemanha. Navegável na maior parte do seu percurso, este rio sempre foi uma via para transportar mercadorias, desde o porto de Hamburgo até ao interior da Europa. Ainda hoje assim é. Tem enorme importância turística e é um importante elemento para a preservação da biodiversidade. Mas está a ficar sem água, agora que as “pedras da fome” reapareceram.
As autoridades alemãs mediram a profundidade do caudal num local de referência e registaram, apenas, 4,5 centímetros de água. Outros rios estão na mesma situação. A Contargo, companhia de navegação alemã, alertou na sexta-feira que as suas barcaças, que percorrem o Reno e alguns dos afluentes, correm já o risco de encalhar em algumas partes do Reno.
Com a meteorologia a prever semanas consecutivas de calor, a situação dos rios europeus só vai agravar-se. Os economistas estimam que a perturbação do transporte fluvial de mercadorias e minério vai contribuir para a queda da economia alemã.
Agora, que a Alemanha procura substituir o gás russo pelo carvão, o transporte fluvial tornou-se mais crítico ainda. Com os barcos já incapazes de receber carvão suficiente devido aos baixos níveis de água, o gigante energético Uniper alertou para os cortes de produção em duas das suas centrais que, juntas, fornecem 4% da eletricidade gerada a carvão na Alemanha.
Além dos problemas para o comércio e indústria, os leitos secos dos rios alemães também nos falam de problemas ecológicos. O aumento da temperatura da água e a diminuição da profundidade dos rios criam uma combinação tóxica para peixes e outros animais.



