Antecipando as comemorações do Dia Internacional da Arqueologia (25 de Julho), a Divisão de Arquivos e Património Histórico da Câmara Municipal de Cascais, proporcionou, no passado dia 21, no auditório do Centro Cultural de Cascais, a projecção do documentário, da autoria do cascalense Raul Losada, intitulado Ecos da Cidade dos Mortos.
Não sendo possível colocar aqui um link para a versão integral, deixamos o trailer do documentário Ecos da Cidade dos Mortos.
Severino Rodrigues, na sua qualidade de Chefe da Divisão de Arquivos e Património Histórico, abriu a sessão, dando o mote para a iniciativa: mostrar que, afinal, o trabalho a que os arqueólogos se dedicam, de desenterrar ‘coisas do passado’, pode, afinal, sair dum domínio hermético, incompreensível, de cacos partidos, muros em ruínas, incompreensíveis letreiros… o resultado dessas longas horas pode ser trazido para os nossos dias de uma forma que todos entendam e admirem.
O caso foi que as escavações preparatórias da construção da estação do Rossio do Metropolitano de Lisboa, na zona da Praça da Figueira, e, posteriormente, as que também aí se levaram a cabo para a construção de um polémico parque de estacionamento subterrâneo, permitiram a identificação de uma grande necrópole da época romana.

Havia restos de jazigos, esqueletos, urnas cinerárias seladas, os pequenos recipientes de vidro para as essências, inscrições a dizer quem é que ali fora sepultado, ao longo (como era hábito) da grande via que saía de Olisipo, a Lisboa romana… Um mundo de mortos que, desta sorte, deu em ressuscitar perante o olhar estupefacto dos arqueólogos!…

Era, de facto, uma pena que tão precioso espólio não fosse mostrado para que todos compreendessem o seu elevado significado. Raul Losada ousou mostrá-lo, com muito saber, apoiado pela autarquia lisboeta (através do Centro de Arqueologia de Lisboa, representado na sessão pelo Doutor Rodrigo Banha da Silva, que é também o esclarecido ‘guia’ no documentário) e pela empresa Era Arqueologia, S. A., encarregada de boa parte dos trabalhos (representada, na sessão, pela Dra. Inês Mendes da Silva). E ousou bem!
Assim foi possível admirar, através de reconstituições tridimensionais, todo o ritual dos enterramentos e, também, aspectos da vida quotidiana de há dois milénios. Choravam como nós os nossos antepassados!…
Na consciencialização plena de que essas memórias são mesmo para preservar e divulgar!

Ecos da Cidade dos Mortos…As palavras são essas, ecos de rituais funerários de há dois mil anos, que também revelam muito dos vivos que ocuparam a cidade portuária de Olisipo, a Ocidente da Ibéria.
Mas se é fascinante explicar, por meio de pequenos vestígios a que chamaremos cacos, e à luz das palavras, da ciência e das ferramentas actuais, esse mundo submerso num mar de silêncio (porque se tornava inevitável depois de colocado a descoberto) também fica um certo constrangimento pelo acto da violação, por parte daqueles que escavaram para construir a estação subterrânea, da paz dos mortos. Os familiares devem ter querido preservá-la a todo o custo para melhor fazerem o luto, tal como hoje os viventes perante os seus que vão partindo…
Mas isto é um apontamento pessoal…Afinal o que este fantástico texto revela é todo o trabalho e empenhamento de técnicos superiores no domínio do Património Histórico e Arqueológico, para codificarem os rituais funerários do Passado.