Certamente já lhe chegou a informação de que a edição nº 74, deste Verão, de Egoísta, a revista da Estoril-Sol, está dedicada à Vida. E poderá ter pensado: «Vida chata tenho eu, quanto mais para que ainda me venham falar dela!».
Saberá, todavia, ou terá ouvido falar, que a continuidade desta revista, editada desde 2000 por uma empresa que se dedica ao jogo, resulta da teimosia de um senhor que dá pelo nome de Mário Assis Ferreira, o qual, contra tudo e contra todos, pugna por que a Estoril-Sol não deixe cair a sua tónica cultural. Por isso, há os prémios de literatura, a manutenção da galeria de Arte, espectáculos musicais e de teatro e.. há a Egoísta!
Perdoar-me-á se dela ouso escrever – e, sobretudo, deste volume – porque, confesso, se sempre nos vários números eu aprendo, com este a aprendizagem foi maior, não tanto pelo conteúdo mas pela forma como esse conteúdo é apresentado.
Para já, são 5 os volumes dentro duma sobrecapa.. Que se lêem de uma assentada, diga-se desde logo, porque os textos são pequenos, elucidativos, tocantes, oportunos. E que se não ache exagero estes adjectivos todos, pois que não é. 1º volume, «A infância parada a olhar-me»; 2º, «ele próprio» (que tem pastilha elástica, horário escolar, headphones…); 3º, de capa vermelha, «corre, Maria, que o tempo urge, mesmo que tenhas ainda a vida pela frente»); 4º, «traição do tempo». O 5º, de capa branca, está em branco, num convite «Este volume pode ser um episódio da sua vida. Escreva. Faça colagens. Guarde memórias». E eu que já há anos preencho os Livros em Branco que meus filhos me vão oferecendo e ainda não achei tempo para o «Avô fala-me de ti» tive um baque, é mesmo para escrever aqui!
Escreve a editora, Patrícia Reis, que nesta edição se propõe “uma reflexão sobre as diferentes fases de vida, numa visão iconográfica, a partir de objetos que representam momentos e idades”.
O texto sobre a infância é da autoria de José Luís Peixoto; o da adolescência, de Xavier Pereira; Paula Cosme Pinto comenta a fase da vida adulta; Patrícia Reis ficou com a velhice. Como representação da vida, os objectos selecionados foram fotografados por Nuno Correia e cartografados em termos de referência histórica por Carla Graça.
Do editorial – assinado, como é hábito, por Assis Ferreira – destaco a descrição d’«o rotineiro ciclo da vida: somos crianças e brincamos; somos adolescentes e transgredimos; somos adultos e contabilizamos; somos velhos e recordamos».
E, a concluir, após afirmar ser a vida «uma lição tão fugaz, quão urgente é aprendê-la. Como se o hoje fosse tardio e o ontem desperdiçado. Até que o coração faleça e a alma sobreviva», Mário Assis Ferreira assim perora:
«Do coração, fica a memória; da alma, a interrogação: nasce-se para morrer ou morre-se para renascer? Se Deus existe, só Ele conhece a resposta!”.
Pela minha parte, perdoe-se-me, eu retiro a condicionante e confesso: «Só Ele conhece a resposta!».