O cidadão Carlos Ferreira, mais conhecido pelo nome artístico Guida Scarllaty, está em vias de ficar sem a casa alugada onde sempre viveu.
Com raras exceções, os proprietários não são beneméritos, isso sabemos bem. Não fazem obras nas casas. Logo que podem sobem as rendas. Sempre atentos às oportunidades especulativas, nos últimos anos têm expulsado todos os inquilinos que se mantêm em casas com rendas baixas. E a Câmara Municipal de Lisboa não tem cumprido com a lei e passa a vida a fazer jeitinhos aos donos dos prédios de Lisboa. Há mais de 5 mil prédios em ruína e a autarquia não faz nada.
Guida Scarllaty ou Carlos Ferreira, como preferirem, vive desde sempre numa pequena cave, algures na Freguesia de Arroios, em Lisboa. Já era a casa dos pais quando Carlos nasceu. Como o arrendamento já antes tinha passado do nome do pai para o da mãe, e não pode haver nova transmissão, o senhorio decidiu aumentar exorbitantemente o valor da renda, caso o inquilino queira fazer novo contrato. Devíamos ter vergonha de todos os presidentes de Câmara (e deputados na Assembleia da República) que temos tido, rendidos à especulação imobiliária.
Guida Scarllaty não pode pagar 900€ por mês. Gastou as economias que tinha com o lar onde a mãe inválida viveu nos últimos 20 anos de vida. O artista envelheceu, deixou de ter trabalho. O Estado não dá amparo suficiente às pessoas. Sem casa, Guida Scarllaty arrisca passar a ser mais um sem-abrigo nas arcadas do Terreiro do Paço.
O homem que fez história nos espetáculos de travesti de Lisboa, que foi cabeça de cartaz no Parque Mayer e cuidador extremoso da mãe inválida durante dezenas de anos, está agora a caminho do olho da rua. Graças a uma lei “parida” por Assunção Cristas, a menina chic do Restelo.


As atuais condições de vida deste artista já são muito precárias. A pequena casa na Freguesia de Arroios espelha o abandono a que o senhorio lhe dedicou. Instalações de água e eletricidade decrépitas, estuque das paredes a escamar de humidade. Até mesmo a instalação do velho esquentador é uma improvisação que dura há décadas. E o senhorio pede 900€ por este “palácio”.



