Faleceu Júlio Conrado

Faleceu no Hospital de S. Francisco Xavier, em Lisboa, onde fora internado de urgência, devido a acidente vascular, o escritor Júlio Conrado, de 85 anos. O seu corpo vai estar em câmara ardente, hoje, segunda-feira, 31, a partir das 9.30 horas, na capela mortuária da igreja de Santo António do Estoril, seguindo o féretro, pelas 17.30 horas, para o Centro Funerário de Alcabideche.

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Bancário de profissão, Júlio Conrado cedo começou a dedicar-se à escrita, mormente à crítica literária. Integrou o corpo redactorial do jornal A Nossa Terra e, depois, o do Jornal da Costa do Sol, de que chegou a ser director, por curso espaço de tempo, tendo, antes, dinamizado aí a página de crítica literária Texto e Diálogo, de grande sucesso.

Natural de Olhão (26-11-1935), veio para Carcavelos com seus pais, ainda criança (aos três anos), e dessa vivência em Carcavelos foi dando notícias em alguns dos livros que escreveu. Dotado de uma prosa bem vernácula, de um neo-realismo sempre presente, a sua obra é ficcional, sem dúvida, mas profundamente alicerçada na sua experiência na Costa do Sol, cuja sociedade não hesitou em escalpelizar.

Integrou várias entidades de índole literária como a Associação Portuguesa de Escritores, o Pen Club Português, o Centro Português da Associação Internacional dos Críticos Literários e a Associação Portuguesa dos Críticos Literários.

Após a aposentação, foi convidado para colaborar, como director executivo, na Fundação D. Luís I. Aliás, vale a pena aceder a https://www.fundacaodomluis.pt/news/o-nosso-conrado, onde o presidente da Fundação, Doutor Salvato Teles de Menezes, sobre Júlio Conrado escreve, a dado passo:

«E entre estas virtudes está a total e completa paixão por Cascais e pelas suas gentes: com o Júlio, vi (eu que sou um «noroestino») como era amar esta terra e dedicar-lhe o melhor que está ao nosso alcance. Ao contrário de tantos que mostram a necessidade constante de encher a boca com loas (sobretudo presunçosas) a Cascais para propalar aos ventos uma paixão baseada em valores serôdios (e frequentemente míticos), o Júlio Conrado, que hoje, 29 de Janeiro, nos deixou às 03:00 horas, amava realmente a terra «cascaense» (como teimava em dizer) e provou-o com o seu trabalho diário de colaborador da Fundação D. Luís I e escritor (não sei ao certo quantos poemas dedicou a Cascais mas foram muitos)».

No âmbito da Fundação, coordenou a revista de cultura e pensamento, Boca do Inferno.

Das mais de duas dezenas de livros publicados – sempre de temática actual, criticamente escalpelizando os tempos e as personagens – citem-se: As Pessoas de Minha Casa (que teve 3ª edição, revista, em 2017), Era a Revolução (de 1997, um retrato vivo, candente, dos primeiros tempos após a Revolução de Abril), Barbershop (2010, uma crítica social escaldante), O Corno de Oiro (comédia, Setembro de 2009), O Deserto Habitado (2ª edição, Outubro de 2004), Turbulência na Academia do Amor (2015, uma incursão nos meandros do mundo das academias…).

Reuniu as suas críticas em Olhar a Escrita (1987) e em De Tempos a Tempos (2008), com que se comemoraram 45 anos da sua vida literária. Na abertura desse livro escreveu:

«A minha militância cultural tem-se traduzido, para mim, em estar na Literatura com um pé no ensaio, na crónica e na crítica e com o outro na ficção», onde declara que lhe parece ser a sua «propensão natural: escrever ficção».

Permita-se-me duas notas pessoais, em relação a um amigo do peito, cuja morte me constrange: Júlio Conrado teve a gentileza de aceder a escrever, em Junho de 2009, o prefácio do meu livro Dos Segredos de Cascais; foi meu colega de mesa, como já vinha sendo hábito, no jantar subsequente à reunião do Conselho de Fundadores da Fundação D. Luís I, a 2 de Dezembro, onde o seu vivo espírito bem-humorado mais uma vez se fez sentir.

            Que descanse em paz!

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