A propósito deste artigo, onde citamos o jornalista João Garcia do semanário Expresso, no que diz respeito à disponibilização à Polícia Judiciária da entrevista integral que a CNN Portugal gravou com João Rendeiro, o diretor de Informação do canal, Nuno Santos, contactou-nos via WhatsApp para pedir uma rectificação. A CNN Portugal terá entregue apenas o que exibiu e nada mais.
A PJ só estaria interessada, portanto, numa única frase de toda a entrevista, que nem era novidade porque já tinha sido teclada pelo próprio no blog Arma Crítica.
O nosso artigo completo e original é o seguinte:
Caso Rendeiro, CNNpt colaborou com a polícia
João Garcia é jornalista, escreve no Expresso, creio que já só escreve crónicas. A mais recente dessas crónicas chama a atenção para algo que só os telespetadores da CNN Portugal podiam saber: a Polícia Judiciária foi à TVI e levou uma cópia integral da entrevista de João Rendeiro.
João Garcia diz que “se há contrato sagrado dos jornalistas com a sociedade é o de salvaguardarem o sigilo de tudo quanto não revelam nas suas peças.” E tem razão. O que aconteceu com a gravação desta entrevista, não devia ter acontecido.
Antes e depois de uma entrevista, muita coisa pode ser dita e ficar gravada num off the record implícito. O entrevistado pode ser um canalha, mas um jornalista não deve ser um polícia. No dia em que isso deixar de ser regra, não haverá mais nenhuma entrevista a canalhas, por maior que seja o interesse público do assunto. O público também não pode ter dúvidas quanto ao distanciamento necessário entre o jornalista e o polícia. Não se trata de um estar contra o outro, mas são funções incompatíveis. No caso da entrevista a João Rendeiro, não sabemos o que poderá ter sido dito antes ou depois da gravação que o canal de televisão exibe.
Na sua crónica, João Garcia lembra a entrevista publicada pelo Expresso ao agente da PIDE Rosa Casaco, co-autor do homicídio de Humberto Delgado e que, nessa época, andava fugido à Justiça: “foram várias as pressões, formais e informais, para que José Pedro Castanheira desse outras informações para lá do que escreveu. Recusou, obviamente.”
E eu lembro que, na TVI, não é a primeira vez que se alude a esta traficância com a polícia. Terá sido uma das razões para o conflito com Ana Leal e que levou à saída dessa jornalista da empresa.
Nesse mesmo artigo que publicámos em outubro, lembrávamos ainda que Nuno Santos já esteve envolvido noutro caso de cedência de imagens recolhidas em reportagem e que foram fornecidas “em bruto” à polícia. Foi em 2012, eram imagens de uma manifestação em frente ao Parlamento e a PSP pediu as imagens para proceder à identificação de manifestantes, presume-se. Quando isto foi denunciado publicamente, estalou o verniz entre diretores e administradores da RTP. Nuno Santos acabou por sair da RTP.
Ou seja, não é a primeira vez que nos “consulados” como diretor de Informação, em diferentes canais de televisão, Nuno Santos aparece envolvido em cedências de imagens à polícia, eventualmente comprometendo a ética jornalística que é suposto ser respeitada. E se antes duvidámos, agora assalta-nos a suspeita de que talvez sejam demasiadas coincidências…