“A letter to a penfriend” é o nome do texto que hoje disse às colegas que não iria dar aos miúdos do 8º ano.
Eles não têm penfriends, disse também, é ou foi uma realidade que já não lhes diz nada. Agora têm amigos online e não escrevem e-mails quanto mais cartas.
Na verdade, já ninguém escreve cartas. Eventualmente enviam-se postais, de natal ou de férias, quando se quer personalizar a coisa com palavras manuscritas para alguém de quem se gosta muito.
Escrevi cartas em miúda, para os meus avós no Alentejo. Revi-as há pouco, trazidas até mim para me avivar a memória familiar. Escrevi muitas para as minhas primas, na mesma região. Escrevi postais de natal, muitos, há muitos anos, e alguns até ser mãe e porque fazia questão.
Tive dois penfriends. O primeiro era um rapaz da Polónia. Chamava-se Zbigniew e estava desempregado, não era um adolescente e era 8 anos mais velho do que eu. A segunda era uma miúda da Grécia, lindíssima, chamada Vaso. Tanto um como outro sonhavam em sair dos seus países.
Ele procurava mesmo emprego fora da Polónia e a ocidente. Ela dizia que a Grécia era um país bom para os turistas. Ambos escreviam sobre preocupações e eram introspetivos. Eu era mais ligeira e sem tanta carga dramática, para o bem ou para o mal.
Nunca mais soube deles. Era giro reencontra-los por aí, no facebook, espelhando os tempos de hoje. Não faço ideia se emigraram. Conservo as cartas que recebi, numa caixa com registos escritos variados que guardei e guardo desde que me lembro.
Já ninguém escreve cartas. Não há tempo nem paciência nem é preciso, tendo em conta as alternativas. Porém sempre foi e poderá ser ainda emocionante receber uma.