O treinador acusa o presidente do clube de proferir “repetidamente comentários xenófobos e racistas para com os jogadores e a equipa técnica”, inclusivamente com o adjunto do treinador que é brasileiro. “Estamos no século XXI. Eu joguei na Coreia do Sul, em França, com jogadores de todas as raças e etnias”, diz Ricardo Nascimento que não aceita esse tipo de situações, muito menos no grupo de trabalho sob sua responsabilidade. “Não é possível um presidente julgar que pode dizer a um jovem jogador, de 19 anos, que por mais banhos que tomasse nunca iria ser branco, mas sempre preto…”
Trata-se de uma acusação gravíssima, merecedora de condenação pública e de queixa crime na esquadra mais próxima.
Na notável entrevista dada ao jornal Record, Ricardo Nascimento especifica várias situações ocorridas com o presidente do clube e que constituem insulto e agressão racista. “Para ele, nossa equipa é composta por “só pretos”, que acusava de serem “pretos de merda” e queixando-se de que “nunca teve tantos pretos”. Posso dar o exemplo concreto do jogador Agostinho Cá, formado no Sporting e que jogou no Barcelona, internacional português e com provas dadas. Nós acreditámos no seu valor futebolístico, mas o presidente, desde o primeiro dia, começou a implicar com ele, alegando que não iria tolerar jogadores malandros e que não corriam. O que de facto aconteceu foi que o Agostinho tinha uma pequena pubalgia que foi recuperada e agora está muito bem.”
A discriminação era evidente, segundo os relatos agora divulgados. “Tenho um treinador adjunto que, também, apenas por ser brasileiro, o presidente insistia que não tinha qualidade e, mais uma vez, tendo atos xenófobos, dizia que “estava farto de brasileiros”. Os casos de racismo e xenofobia no futebol são frequentes, como se sabe. Não tem havido pedagogia capaz de solucionar o problema. Talvez seja a altura da Justiça entrar em campo.
Em Sernache, Ricardo Nascimento não aguentou. “Eu ouvi, ninguém me contou, frases como ‘estou farto dos pretos’, ‘estou cheio de brasileiros’, quando o racismo não faz sentido no futebol. São frases que magoam, ferem, abalam o grupo. E se calhar, também por causa disso a bola bate no poste e vai para fora em vez de entrar. É impossível ter sucesso no futebol quando a vida e a condição humana não são respeitadas.”
E bateu com a porta. E denunciou. E fez muito bem.