Quando o Tribunal Constitucional, há dias, confirmou as decisões anteriores dos tribunais penais, João Rendeiro já não estava em Portugal para ser incomodado com a decisão. O ex-banqueiro foi para Londres, fora do espaço da União Europeia, vai ser difícil trazê-lo de volta. Também Paulo Guichard, outro ex-administrador do BPP, igualmente condenado, decidiu ir arejar até ao Brasil.
Rendeiro foi condenado a cinco anos e oito meses de prisão pela prática dos crimes de falsificação informática e falsificação de documento.
Agora, os autos contra o antigo banqueiro transitaram em julgado. Seria suposto que o tribunal emitisse o mandato de condução à prisão. Mas em Londres, João Rendeiro vai continuar livre.
Quando a sentença foi lida, em 14 de maio de 2021, a juíza Tânia Loureiro Gomes, que presidiu ao coletivo de juízes, disse que os arguidos são “condenados de forma exemplar e expressiva porque os factos que praticaram são graves” e a comunidade não entenderia que assim não fosse. É verdade. Mas a comunidade também não entende como foi possível que os arguidos, perante a inevitabilidade da condenação, tivessem podido sair do país.
Os factos que levaram a esta decisão judicial ocorreram entre 2003 e 2008. Ou seja, 18 anos depois os culpados ainda não estão detidos. O tribunal deu como provado que os arguidos João Rendeiro, Fezas Vital, Paulo Guichard e Fernando Lima retiraram, no total, 31.280 milhões de euros para a sua esfera pessoal. O dinheiro subtraído nunca foi devolvido, o Estado apenas arrecadou alguns imóveis em nome de João Rendeiro.
O colapso do BPP, banco vocacionado para a gestão de fortunas, verificou-se em 2010, já depois do caso BPN e antecedendo outros escândalos na banca portuguesa. O banco tinha como um dos fundadores e principal acionista o empresário Pinto Balsemão, que sempre apoiou publicamente (e em prémios de gestão chorudos) as performances de João Rendeiro.