A decisão sobre o futuro do Largo do Martim Moniz está por dias, depois de um longo e bastante participado processo de discussão pública. Há dois anos, o Martim Moniz iria ser uma espécie de mercado a céu aberto, com a praça cheia de contentores que serviriam de lojas de comércio e serviços. Um recinto vedado e que seria fechado a cadeado durante a noite.
A ideia não era do agrado de muitas pessoas, residentes e pequenos comerciantes da zona. Organizaram-se e protestaram. Fizeram manifestações de rua, foram para os jornais, intervieram nas reuniões públicas da autarquia. Fizeram tanta pressão que conseguiram parar esse processo que estava já concessionado e um grupo de empresários.
A Câmara Municipal de Lisboa foi obrigada a colocar o futuro do Largo do Martim Moniz em discussão pública. Mais de mil lisboetas (1009 é o número oficial) participaram nessa discussão com propostas concretas. A maioria dessas propostas aponta para a transformação do Largo num jardim. Um espaço verde, imaginem. Não querem mais quiosques, nem lojas de chineses, nem restaurantes de fast food, nem tretas para inglês ver. As pessoas querem um jardim onde as crianças possam brincar e os velhotes descansar na sombra fresca das árvores que o jardim há de ter. Querem um jardim limpo e seguro.
Por enquanto, o Largo do Martim Moniz continua um sítio sem graça. Um largo de chão empedrado onde à noite dormem vagabundos e de dia alguns se entretêm a dar milho aos pombos. Se o chão de pedra for substituído por terra com árvores e canteiros de flores, tanto os pombos como os sem-abrigo vão ficar muito mais bem servidos.
O sítio a que chamamos Largo do Martim Moniz foi até meados do século XX um local bem diferente. Tal como o resto da Mouraria, o que ali havia era um dédalo de ruas estreitas e casas antigas. Muitas casas de gente pobre e um palácio. Quando o Palácio do Marquês do Alegrete foi demolido, abriu-se espaço para o largo a que depois se chamou de Martim Moniz. Depois, esburacaram o chão para ali construírem um estacionamento subterrâneo. Ou seja, hoje já ali não há nada que valha a pena salvaguardar. Que se faça o jardim.