Há 30 anos, uma família com uma criança de tenra idade viveu nas traseiras da RTP, dentro de duas caixas de cartão. Mas ainda havia quem fizesse contas às moedas que o homem, arrumador de carros, pedia para sustentar a família. Não tinham nada, nem casa de banho, nem água ou comida para o bebé. E os jornalistas o que disseram? Nem uma palavra.
Também por lá esteve, durante dois anos, um homem bem posto que montou uma casa. Tinha sala sem tecto, cozinha sem fogão ou máquinas. O quarto era um saco cama. Tudo a fingir. As flores da jarra eram verdadeiras. Daninhas! A polícia espezinhou-lhe a casa várias vezes. E os jornalistas o que fizeram? Nem uma imagem.
Outro homem também ali viveu uma dezena de anos. Deambulava pela Avenida 5 de Outubro. Era gordo de tantos bolos que lhe davam.
Confesso ter hoje um terrível sentimento de culpa. O indomável Batista Bastos disse-me: “os jornalistas são uns merdas, às vezes”, porque fazem “jornalismo de precaução”. Deixamo-nos enredar pela multidão do Fado, Fátima e Futebol.
Há três anos eu ía fazer imagens dos frigoríficos do Oeste, cheios de vietnamitas. Propriedade de um empresário que deveria honrar o pai. E não fiz. “Queres mais um processo?”. “Os jornalistas são uns merdas” quando recuam.