Importante jardim histórico de Lisboa corre perigo

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Muitos lisboetas nunca lá foram. A maioria dos portugueses nunca ouviu sequer falar deste sítio. São 10 hectares de jardim, com uma vista fantástica sobre o tejo e a margem sul, no centro de Lisboa. Os terrenos pertencem à Câmara Municipal e, negligenciados, esperam que o governo da cidade se decida a olhar por eles.

Há um projeto, mas depende de investimentos privados. Nos tempos que correm, os privados estão a investir pouco. O negócio da restauração e hotelaria anda incerto, oferta de imobiliário para escritórios e serviços existe em demasia. O projeto que a CML aprovou para a Tapada das Necessidades está sustentado nesse tipo de investimento. Dificilmente irá em frente, nos próximos tempos.

O projeto foi aprovado pela autarquia, mas sob protestos da maioria dos partidos políticos com representantes eleitos. Bloco de Esquerda e PCP votaram contra e abstenção do CDS-PP. Os argumentos contra prendem-se com a demolição de parte dos edifícios históricos. O PAN apresentou uma moção onde exigia preservação, restauro e conservação do património histórico e um “levantamento exaustivo de todas as suas espécies vegetais”, incluindo as mais raras.

Pelo pouco que se sabe, o projeto salvaguarda apenas alguns dos edifícios oitocentistas que ainda existem, nomeadamente a estufa circular mandada erguer por D. Pedro V, no século 19, e os muros que cercam todo o jardim.

Apesar de murado, as franjas da Tapada têm sido “comidas” pela construção de edifícios. Por exemplo, construíram dentro de muros uma escola primária, a Escola básica Fernanda de Castro, e o Ministério da Defesa Nacional construiu o edifício sede do Instituto de Defesa Nacional, destruindo para o efeito o picadeiro Real. Além disso, os utentes destas duas estruturas usam os arruamentos da tapada como estacionamento automóvel. Compreende-se a necessidade de estacionar os carros, mas não se aceita que essa necessidade seja satisfeita desta forma, apesar do nome da Tapada.

Estamos a falar de um local com História. Um espaço que foi em tempos o jardim do Palácio Real de Lisboa e que foi posto ao serviço de botânicos e arquitetos paisagistas, onde existiu uma escola de jardineiros, onde ainda existe um viveiro de cactos único em Portugal e onde o Rei D. Carlos teve o seu atelier de pintura que está, hoje, em acelerada decadência, à beira da ruína.

É isto que a CML não tem vontade política para manter e pretende submeter aos ditames dos privados. O negócio da Câmara envolve o grupo Banana Café Emporium, a quem a CML já concessionou diversos espaços para quiosques e esplanadas. Mas trata-se de uma empresa que depende dos turistas para gerar receita. Neste momento não devem estar muito virados para gastar 5 milhões de euros num investimento que não lhes dá imediatamente garantias de receitas. Além dos 5 milhões que o projeto prevê que sejam garantidos pelos parceiros privados, a própria CML tem também uma quota parte no investimento, pormenor que ainda não foi divulgado. Por fim, será necessário lançar o concurso para a empreitada e esperar que os bancos aceitem financiar os parceiros privados. Como sabemos, eles nunca gastam dinheiro do próprio bolso.

Muitos lisboetas preferiam que o projeto da CML não se concretizasse. O projeto implica a destruição de boa parte do património edificado e a transformação de algumas áreas do jardim em estacionamento automóvel. Sim, porque não faz sentido chamar um parceiro que se dedica a explorar restaurantes e esplanadas e não permitir que esses locais não disponibilizem estacionamento para os clientes.

Tapada das Necessidades
mapa com a localização da Tapada das Necessidades na zona nobre e histórica de Lisboa

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