A Oficina da Cristina

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Entre números e encadernação artesanal

O que têm em comum Gestão de Empresas e a busca pelo papel reciclado perfeito para construir “aquele” álbum/caderno de viagens perfeito? Tudo, garante-nos Cristina Grosso, artesã de encadernação, e criadora de A Oficina da Cristina. A sala de sua casa, às portas do Jamor, é o local de onde saem peças que ela garante serem únicas. “O que me motivou? Por um lado, sempre gostei de fazer trabalhos diferentes, ser eu a fazer os meus trabalhos; comecei por ter workshops de várias áreas. A uma determinada altura, quando andava na Universidade, vi cadernos que tinham mapas na capa e aquilo atraía-me imenso; eu comprava tudo o que era esses cadernos, para usar e escrever”, afirma, enquanto lembra: “um dia pensei: eu tenho de fazer os meus cadernos. No meio desta minha grande vontade, descobri um curso que tirei sobre encadernação. Já lá vão uns bons anos”.

Cristina também conta com documentos antigos e únicos, papéis artesanais que encontra fruto de muita pesquisa, e até com os seus carimbos de infância que têm quase meio século. A primeira encomenda foi há cerca de vinte anos, quando ainda fazia sobretudo álbuns de fotografias, passando mais tarde para diários de viagens, álbuns para bebés, agendas anuais e cadernos escolares. Mesmo a tirar o curso de Gestão de Empresas, sempre gostou da parte criativa e de trabalhos manuais, e de criar sempre coisas originais e criativas, paixão que conjuga com o gosto pelos números e finanças. “Hoje dá-me jeito para organizar porque todo este trabalho criativo tem de ter sempre um trabalho administrativo e fiscal”, frisa.

A criatividade, essa, não pára. “Estou sempre a pensar… eu estou a fazer um trabalho e já estou a pensar no trabalho que vou a fazer a seguir”, confessa esta artesã, que revela que os mais jovens, por norma fãs do universo digital, também estão a interessar-se pelos cadernos artesanais e pela escrita.

O seu trabalho de investigação poderia comparar-se ao de quem trabalha em História, mas ela esclarece. “Não sou historiadora nem quero comparar-me a um, mas dou por mim às vezes a ter de ir pesquisar para que o trabalho esteja correcto no tema que estou a trabalhar, e porque gosto de aplicar essa precisão…Engraçado, porque muitas vezes me perguntam onde é que arranjas estes pormenores, onde foste buscar esta ideia. E como costumo dizer, é muita pesquisa, é andar à procura onde encontrar esses materiais”, acrescenta, garantindo que não só faz essa procura pela Internet mas sempre que possível em pessoa.

Ainda antes da pandemia, em 2019, fez o Mercado de Alvalade, que descreve como uma boa experiência com aceitação do público. Mas com a pandemia, e consequente confinamento, diz que ficou com algum tempo livre que aproveitou para colocar em prática um projecto adiado: a loja virtual. “Comecei a ver como se construía um site e fiz o meu próprio site”. Cristina alerta para o facto de este ser um projecto que exige dedicação e trabalho constantes para obter sucesso no aspecto comercial. “Ter uma loja online não basta, é como eu ter uma loja física num sítio estratégico muito bom, com material impecável para vender lá dentro, mas ainda não tirei os jornais dos vidros da montra, e quem passa não olha, não vê – não sabe que existe. Tive de arranjar uma alternativa que foi aprender a explorar”. Assim, a empresária tem contas no Facebook e no Instagram e está a aprender a trabalhar ambas de forma mais profissional; o propósito é ter mais visibilidade nessas redes sociais, divulgar a marca.

“Esta é uma área muito abrangente. Trabalha-se desde o marketing aos preços, passando pelas divulgações, contas, facturação, enfim…uma imensidão de áreas dentro desta área. Isso às vezes é difícil, porque sou eu que faço tudo (não tenho ajudante nem teria como pagar) mas é muito desafiante ir sempre buscar estas coisas, e ir criando isto”. No capítulo de vendas, admite: “Vai dando. Não vamos dizer que em cenário de pandemia se vende como se vendia antes. Este é um trabalho que as pessoas precisam de ver em mão, porque cada peça é única, e por vezes é difícil passar a imagem de cada um dos meus trabalhos. É uma coisa que tenho estado a aprender a fazer”. A artesã não deixa de admitir que os tempos não permitem grandes projectos, por exemplo, nas vendas ao público. “Os mercados estão muito incertos, mesmo que venha a acontecer como antigamente, só daqui a dois ou três anos. A prova é que alguns marcaram mas desmarcaram, como já aconteceu em Novembro e Dezembro (e são alturas muito boas para vender este tipo de trabalhos)”.Ainda acerca das feiras, esclarece que os artistas e artesãos têm de pagar taxas de ocupação do espaço mesmo que sejam em sítios das autarquias.“Paga-se e muitas vezes até se paga bastante”. Porém, está disponível para participar em feiras que possam vir a ocorrer. “Eu estou interessada em divulgar o meu produto, logo, estou interessada em participar”.

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