É um edifício icónico da cidade de Lisboa, foi construído de raiz para ali funcionar o jornal Diário de Notícias. A arquitetura exterior tem tudo a ver com a função de produzir e publicar um jornal, inspirada naquilo que era à época uma rotativa de impressão.
O Diário de Notícias foi um jornal importante e acumulou prestígio e História que, depois, mais recentemente, se perderam. A História é ignorada e o prestígio desapareceu. Ao longo de mais de um século, o jornal noticiou todos os factos relevantes do dia-a-dia de Portugal, desde a queda da monarquia em 1910, as vicissitudes da I República, o golpe militar de 28 de maio de 1926, a ditadura, a queda de Salazar da cadeira, o 25 de abril. O jornal tem 157 anos (foi fundado em 1864), mas se isso valesse dinheiro não seria hoje propriedade do empresário Marco Galinha depois de, nos últimos anos, ter passado por outras mãos sem habilidade para este género de atividade empresarial.
Em 1974 foi nacionalizado e, por entre várias crises políticas e reestruturações orgânicas, era um jornal credível e viável. A primeira machadada foi dada por Cavaco Silva, primeiro-ministro em 1991, que o vendeu a privados. Depois foi passando de mão em mão, da Lusomundo, à Portugal Telecom, passando pela Controlinveste, até chegar às mãos de Marco Galinha.
Pelo caminho ficou o tal edifício icónico, vendido para pagar dívidas. Hoje estão a vendê-lo em propriedade horizontal a chineses, russos e brasileiros candidatos aos vistos gold. É bem possível que nenhum dos apartamentos em que o edifício foi transformado venha a ser comprado por cidadãos portugueses. O vendedor diz que “o empreendimento oferece 34 apartamentos de distintas tipologias distribuídas por 5 pisos com estacionamento privativo: cómodos estúdios, passando por frações de T1 a T3 para pequenas ou grandes famílias, até ao exclusivo apartamento T5 na cobertura”.
Os T3 custam 2 milhões e 100 mil euros. Os T2 andam pelos 1 milhão 300 mil euros. Os T1 são mais baratos: 770 mil euros (estão quase todos vendidos). O “exclusivo apartamento T5 na cobertura” não tem preço anunciado… nem fotografias disponíveis.
Seja a que preço for, não valerá o dinheiro que pedirem por ele. A não ser que o preço inclua sessões pé-de-galo com os espíritos de Ramalho Ortigão, Eça, António Ferro, Vasco Pulido Valente ou Saramago. Isso é que era.
Claro que nada disto impedirá mais medidas economicistas que vão afetar a vida dos trabalhadores do Diário de Notícias. Estão anunciados para breve reduções no horário de trabalho e novo corte salarial em todas as áreas da Global Media: jornais, gráfica e distribuição. Isto depois de no ano passado o grupo ter despedido 81 trabalhadores.
Não há dinheiro para salários, mas houve agora para comprar à Impresa 50% do capital social da VASP, uma distribuidora de jornais.
Custou dizer que um dos proprietários do prestigiado quotidiano português foi um dos oligarcas .