A raspadinha e demais jogos de lotaria podem ser um vício, quem o diz é Francisco Assis, o atual presidente do Conselho Económico e Social, órgão de consulta do Governo no domínio das políticas económica e social.
Assis disse que o Governo deveria reconsiderar o lançamento da nova lotaria instantânea que está prevista no Orçamento do Estado, porque há a possibilidade deste tipo de jogo poder transformar-se num comportamento compulsivo e descontrolado, com os inerentes prejuízos económicos para o jogador e as consequências familiares e sociais que implica ter pessoas viciadas no jogo.
A raspadinha parece ser a maior preocupação de Francisco Assis que disse à agência de notícias Lusa ir “contactar investigadores da Universidade do Minho para que iniciem um estudo sobre as consequências sociais do vício da lotaria instantânea, conhecida por raspadinha.”
A realização deste estudo está prevista no Plano de Atividades do CES para 2021. Segundo Assis declarou, o estudo vai avançar já por considerar que se trata de “um problema social gravíssimo”.
Segundo o Orçamento do Estado para 2021, o Governo vai criar uma lotaria instantânea para financiar intervenções no património cultural do país.
Esta raspadinha está prevista nas principais medidas de política orçamental como Lotaria Instantânea do Património Cultural, com uma receita esperada de 5 milhões de euros. Para Francisco Assis não é aceitável pensar em financiar qualquer investimento à custa do empobrecimento de quem é viciado neste tipo de jogo.
Mas, Assis não explicou como pretende separar a lógica da raspadinha com a dos outros jogos e lotarias. Se a raspadinha vicia, também o Euromilhões pode viciar, ou a Lotaria clássica ou o Totobola.
As várias raspadinhas existentes representam 50% do total das receitas de lotarias, uma receita que tem crescido significativamente desde 2010. O valor das raspadinhas vendidas em Portugal foi de 1.594 milhões de euros, o que significa que cada pessoa gastou, em média, cerca de 160 euros por ano nas lotarias instantâneas.
Uma tese de doutoramento de 2015, de Maria João Ribeiro Kaizeler, citada por Francisco Assis, concluiu que em Portugal se consome, em média, mais jogos de lotaria do que na Europa e no mundo inteiro. Francisco Assis referiu ainda que, segundo especialistas médicos, as raspadinhas criam facilmente adição ao jogo porque são rápidas, são baratas, não é necessário entender o jogo e são fáceis de comprar pois estão à venda em muitas lojas.
“E são as pessoas de menores rendimentos que são mais viciadas”, salientou Assis.
Francisco Assis não explicou, no entanto, se as pessoas jogam por serem pobres e verem no jogo a única hipótese de deixarem de ser pobres ou se empobrecem porque jogam.