Em pleno inverno de 2020, quando a pandemia nos obrigou à “solidão”, não tinha dúvidas em denunciar a tentativa de decapitação da hierarquia da Justiça em Portugal, então em curso.
Preocupado com diversos sinais que até “furavam os olhos”, deixei claro que, “a par dos golpes de estado económico-sociais, se desenhava um golpe no estado de direito”; e até fiz questão de publicar, em livro, que, em matéria de democracia, já só “passaria atestados de virgindade ao Tribunal de Contas e à Provedoria de Justiça”.
No entanto, não raro a vida nos prega surpresas e vemos falhados objetivos que parecem fáceis. A turbulência entretanto causada pela pandemia, nos altos voos de uma classe política medrosa e totalmente impreparada, e submissa a interesses que não exalam patriotismo, acabaria por desviar mísseis já apontados e permitir um inesperado alento a “espécies condenadas à extinção”.
Melhor explicado, apesar do silêncio ensurdecedor de quase todos os Partidos “não populistas”, e dos bons préstimos do líder da oposição, a tentativa de redistribuição de cargos na chefia do Supremo Tribunal de Justiça, tendente à sua definitiva tutela pelo poder político, “não correu tão bem como o desejado”. E, com a confusão instalada, até a partilha dos processos do TIC, que também se anunciava ir “entrar em obras de remodelação ou fechar”, proporcionou acidentalmente alguns ventiladores extra a quem, durante anos, havia encabeçado uma “revolução silenciosa na Justiça portuguesa”.
Sempre fui um otimista. Não há mal, por pior que seja, que não “carregue” algo de bom. Graças ao coronavírus, pela primeira vez em décadas, Portugal assistiu nos últimos meses a um real avanço na responsabilização criminal de altos gangues, incluindo magistrados e administradores que se julgavam intocáveis.
E como a vida não é só composta de desgraças, aproveito para também deixar nota que me parece algo comprometida a tentativa de “golpe de estado na educação”, sobretudo na área da cultura, seja a popular ou a erudita. Reviravolta que aconteceu por que, quase de forma espontânea, se ergueu uma forte onda identitária e patriótica entre o nosso povo. Entre nós, ainda há muito quem acredite que somos portugueses… “por acaso” o primeiro povo do mundo a marcar as suas fronteiras.
Depois de, enquanto médico e cidadão, me ter “esgotado” durante meses a produzir dezenas de textos inúteis, em que antecipei “ciência” sobre as diversas vertentes da presente pandemia, e em que não falhei uma única previsão ou medida, ainda conto voltar a “atentar-vos” com as novas reflexões que tenho em curso.
Adiei, contudo, esse propósito, rendido esta semana à coragem e valia daqueles que se “vão da lei da morte libertando”, empenhados numa “moralização” sem precedentes das Instituições da República Portuguesa.
Reconduzidos todos os “generais” que tão galhardamente se batem na “frente de guerra” contra o coronavírus, como podia não saudar o restauro urgente que foi efetuado nesse grande baluarte da democracia, que é o Tribunal de Contas?
Cidadão no ativo, mas médico se calhar já “fora de validade”, sem dúvida que só posso agradecer esta recente “varridela”, “viradeira” que me facilita a vida em matéria de passagem de um “atestado de virgindade”, agora totalmente desnecessário.
Com a “esperança” de que prossiga a oportuna substituição de magistrados inoportunos, peço a todos os portugueses de boa-vontade que se associem a este meu aplauso de gratidão:
– Ditosa Pátria… que tais filhos tem!