Não quero dizer palavrões.
É sinal de má educação, garantem, e mesmo os humoristas só os utilizam quando lhes falta o talento para o humor inteligente.
Os palavrões, por outro lado, dão sempre um sinal de frustração, de raiva, de incapacidade de gestão das emoções.
A elegância e a correcção costumam vencer a indelicadeza e a falta de respeito.
Por isso, nesta fase final da minha vida, para mais passada em confinamento, sem poder desabafar com amigos próximos, tenho feito um grande esforço para acompanhar os noticiários sem fazer comentários azedos.
Há dias mais complicados que outros mas, ainda assim, tenho conseguido uma postura civilizada.
Penso…
Hoje comecei a manhã a ler críticas ao dia-a-dia frenético do Presidente Marcelo.
Muitos se revoltaram por este ter feito um discurso piegas sobre o suicídio de um actor de telenovelas tendo, depois, estado presente no seu funeral, sem ter dito uma palavra sobre o médico que morreu vítima de Covid-19 depois de ter sido infectado, no seu local de trabalho, onde lutava para salvar a vida de doentes ao seu cuidado.
Uma questão de prioridades, tentei justificar para evitar um desabafo mais desagradável.
De qualquer modo esta é a linha normal dos presidentes oriundos da direita.
Lembro, por exemplo, Cavaco Silva a premiar inspectores da PIDE ao mesmo tempo que recusava condecorar Salgueiro Maia.
Respirei fundo, acalmei, e passei à informação seguinte que indicava a forte possibilidade do mesmo presidente poder ganhar as próximas eleições à primeira volta!
Fechei os olhos, lamentei o facto de não ter nascido no Burkina Faso, e passei para as páginas seguintes.
Um título em caixa (muito) alta, com uma fotografia de meia página de um casal, garantia que os dois se propunham falar “sobre os maiores receios que enfrentam nesta pandemia”.
Embora estas informações sejam, de um modo geral, genéricas e até contraditórias, decidi ler acreditando que, dado o impacto que o jornal dava às opiniões de ambos, estas deveriam ser, com toda a certeza, dignas de atenção.
Fui tentar perceber quem eram os entrevistados.
Pelo nome temi o pior: Bruno e Tatiana!
Li o primeiro parágrafo do texto e o jornal ficou amarrotado.
Era do seguinte teor:
“O par que se conheceu em “Casados a Primeira Vista” fala sobre a situação actual do mundo.”
Comecei a pensar que se o presidente Marcelo lesse a notícia os poderia convidar para seus conselheiros na área da saúde e fui tomar um calmante.
Liguei a televisão e vi a Dra. Graça Freitas a dar, na manhã do dia 24 de Junho, instruções para os festejos de São João que tinham sido na véspera.
Pensei que o mais provável era o presidente Marcelo ficar mais bem servido com os conselhos do Bruno e da Tatiana do que com os da actual Directora-Geral de Saúde e… tomei outro calmante.´
Fui espreitar as novidades na Assembleia da República no Canal Parlamento.
Estava a ser ouvida a dona de uma casa de prostituição em Portugal, de seu nome Ana Loureiro.
É uma senhora que luta pela legalização da prostituição no nosso país.
O que é que ela contou aos Deputados?
Que “há um juiz em Portugal, que é o único juiz que faz videoconferência com menores em Portugal, e que mete o telemóvel assim [fez um gesto com as mãos para explicar que o telefone fica na horizontal]. Assim que a criança começa a falar ele pede a uma prostituta para lhe fazer sexo oral até ao fim do julgamento. Eu pergunto a todos os deputados: o que é que vai na cabeça deste juiz?”
E, antes dos deputados poderem fechar as bocas, e deixarem de ter os olhos esbugalhados, perguntou:
“E nós? Podemos denunciar?”
Pergunta obviamente absurda, já que tinha sido isso mesmo que ela acabara de fazer, e não contente com tal ainda avançou com uma resposta igualmente incongruente:
“Não, não podemos!”
Os jornais, mais tarde, anunciavam que o vice-presidente da Assembleia da República ia enviar um ofício ao Ministério Público para se averiguar se há algum crime em causa.
Posso já avançar a conclusão do inquérito.
Em primeiro lugar os deputados serão criticados por ouvirem uma “profissional” de uma profissão que não só não é reconhecida como é considerada ilegal!
Em segundo lugar a “profissional” deve ser punida por não respeitar o sigilo que deve haver entre prestador de serviços e os seus clientes!
Em terceiro lugar a “profissional” deve ser punida por duvidar das capacidades intelectuais do juiz quando questiona publicamente: “Eu pergunto a todos os deputados: o que é que vai na cabeça deste juiz?”
Isto, claro, se ela se estiver a referir aquela parte do corpo que está sobre os ombros do Magistrado!
Porque se a opção for outra…
Terceiro calmante e vou dormir para não escrever palavrões.
É que não há pachorra para aturar tantos #”*+”#&/&!”#!!!!!