A atual ofensiva militar israelita sobre Gaza e o Hamas tem tudo a ver com o que se vai passar na Assembleia Geral das Nações Unidas, particularmente na última semana de setembro. Há a expectativa de vários países europeus virem a reconhecer o Estado da Palestina, no dia 22, facto que incomoda o Governo de Israel.
O Estado da Palestina já existe desde 1988, quando a Organização de Libertação da Palestina (OLP) declarou a independência em nome do povo. A maioria dos países reconhece a Palestina como Estado independente, com as fronteiras definidas pela ONU, mas que Israel nunca respeitou. Hoje, 147 dos 193 Estados-membros da ONU reconhecem a Palestina. Se as maiorias qualificadas valessem de alguma coisa, a Palestina seria membro de pleno direito da ONU, mas estamos a falar de uma organização que não tem regras democráticas.
Nada disto impediu Israel de vir a ocupar cada vez mais território palestiniano, nada disto impediu Israel de bloquear economicamente o território da Palestina, incluíndo o controlo das fronteiras ou o acesso ao mar. A Palestina (Cisjordânia e Faixa de Gaza) foi transformada numa colónia cercada de muros e arames farpados, onde as pessoas não têm liberdade de movimentação. Nunca até hoje o Estado da Palestina teve mais do que estatuto de observador permanente sem direito a voto na ONU. A adesão plena requer a aprovação do Conselho de Segurança e os EUA, com o direito de veto, sempre impediram que a Palestina pudesse ter os mesmos direitos que os demais.
ELEIÇÕES NEM SEMPRE SÃO BOA IDEIA
A Palestina realizou eleições em 2007. As democracias ocidentais acreditavam que a sucessora da OLP, a chamada Autoridade Palestiniana, ganhasse as eleições. Isso aconteceu na Cisjordânia, mas na Faixa de Gaza venceu o Hamas. As relações entre as duas facções nunca foram serenas (dizem mesmo que Israel alimentou essas divisões com as suas intrigas e financiamentos secretos, quer a uma quer a outra das facções) e em vez de sair reforçada por ter governos legitimamente eleitos pelo voto popular, a Palestina passou a viver uma crise política crescente, uma crise económica asfixiante, uma repressão militar exercida por Israel com frequentes bombardeamentos, destruição de infraestruturas, assassinatos de líderes palestinianos, ocupação de territórios. Tudo isto desembocou nos acontecimentos de 7 de outubro de 2023.
O que se espera dos países europeus que venham a reconhecer o Estado da Palestina é uma imediata revisão das suas relações com Israel. Isso eles podem fazer e, com isso, pressionar Israel a aceitar a existência de um vizinho palestiniano. Israel não viverá confortavelmente se for alvo de boicotes às suas exportações, ao turismo, ao isolamento diplomático. Os EUA podem continuar a fornecer armamento, mas a economia de um país precisa mais do que obuses.
ISRAEL ACREDITA EM MITOS
Israel enfrenta um clamor global sobre a sua conduta em Gaza. A acusação de genocídio é pesada e acarreta consequências futuras. Após décadas de negociações conduzidas com má-fé por parte de Israel, o atual governo de extrema-direita dinamitou todos os fingimentos e assumiu a vontade de anexar a Palestina e expulsar a população palestiniana.
O Primeiro-Ministro Benjamin Netanyahu afirma que Israel nunca abrirá mão do controlo absoluto sobre Gaza e a Cisjordânia. Contam com os Estados Unidos e o atual governo norte-americano não os irá desapontar.
Mas o “controlo absoluto” sobre seja o que for é um mito. Não existe. E à violência responde-se com violência. O exemplo mais recente é o que aconteceu com Charlie Kirk, ativista e apoiante de Trump, alvo de um sniper durante uma cerimónia pública na Universidade do Utah. A vítima do atentado morreu. Nada que não aconteça todos os dias com cidadãos palestinianos, mesmo com crianças.

(outros artigos sobre o reconhecimento do Estado da Palestina em Arquivo de reconhecer o Estado da Palestina – Duas Linhas)



