Pela 38ª vez, este bem longevo Salão constituiu, na verdade, ponto de encontro privilegiado dos artistas que, ao longo dos últimos anos, têm exposto na galeria e que, pela diversidade dos temas, das técnicas e das modalidades (pintura e escultura, sobretudo), o transformam em eloquente mostra de estilos, mui variegada euforia de cor.
São 24 os artistas representados e boa parte deles na abertura estiveram presentes:
Na pintura – Alfredo Luz, Branislav Mihajlovic, Cohen Fusé, Diogo Navarro, Filipa Oliveira Antunes, Gustavo Fernandes, Joana Arez, João Feijó, José Grazina, Maramgoní, Mariola Landowska, Nadir Afonso, Paulo Ossião, Pedro Castanheira e Rui Carruço.
Na escultura – Abílio Febra, Carlos Ramos, Filipe Curado, João Sotero, Jorge Pé-Curto, Marius Moraru, Ricardo Gigante, Rogério Timóteo e Thierry Ferreira.
São sempre invulgares, imprevisíveis, as esculturas de Filipe Curado, por exemplo (perturbante, a sua «árvore interior»…). Trouxe-nos, Paulo Ossião no seu estilo inconfundível de suave aguarelista, um Tejo repousante, de monumento aos descobrimentos a querer entrar por ele adentro e, quando eu lhe disse «Vasto é esse céu, Paulo!» e ele retorquiu «Se calhar abusei, pus céu a mais», foi a minha vez de retorquir «Não, Paulo, que há aí como o céu desta nossa costa e retratado com esse cambiante de azuis, como é teu timbre fazer!? Merece espaço, oh! se merece!».
Intrigou-me o acrílico e gesso sobre tela, 105 x 155 cm, de Filipa Oliveira Antunes, com bem estranho título: «Arêz». «Filipa, que é isso? Um retorno às linhas direitas, à sucessão geométrica, às tonalidades suaves? E que nome estranho esse, menina!». Explicou-me, ela, mulher de Lisboa, urbana: comprara uma casinha em Arêz, mui pacata povoação entre Alcácer do Sal e Grândola; de manhã cedo, a horas certas, o padeiro anuncia-se por meio duma buzina e o pessoal vem, de taleigo na mão, abastecer-se. «Uma vida sem o irrequieto bulício da capital, meu caro José. Não resiti à tentação de passar para a tela essa paisagem, hino à vitalidade rural».
Por detrás de cada quadro e cada forma se esconde, pois, uma história, uma emoção e, amiúde, até se proclama uma mensagem. Cabe ao apreciador deter-se-lhe diante e indagar, deixar-se levar de braço dado…
Uma exposição colectiva seduz, por outro lado, os críticos de Arte, que disso fazem profissão, porque sabem alinhar a preceito frases aprendidas e apreendidas nos livros da Teoria da Estética, do Mundo das Escolas Artísticas, descortinando aqui influências surrealistas, acolá o eco duma obra de Picasso, mais além a paleta de cores de Van Gogh ou os ‘traços geometrizantes’ de Nadir Afonso (também ele aqui presente com um pequeno guache da colecção da galeria). Admiro-os. Prefiro, porém (desculpem!), postar-me largos minutos diante de uma tela e deixar-me inebriar, como quem sorve, a longos haustos, água fresca de pura nascente termal.