A FESTA DAS ARTES

A palavra «Salão» sugere amplo espaço onde apetece estar, em mui agradável convívio, num ambiente de festa. Isso acontece, de facto, nos salões da galeria de arte do Casino Estoril. Inaugurado, com a habitual pompa e circunstância, a 8 de Novembro, o XXXVIII Salão de Outono, sagrou-se, de novo, em ambiente festivo, apreciável até 5 de Janeiro.

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Pela 38ª vez, este bem longevo Salão constituiu, na verdade, ponto de encontro privilegiado dos artistas que, ao longo dos últimos anos, têm exposto na galeria e que, pela diversidade dos temas, das técnicas e das modalidades (pintura e escultura, sobretudo), o transformam em eloquente mostra de estilos, mui variegada euforia de cor.

São 24 os artistas representados e boa parte deles na abertura estiveram presentes:

Na pintura – Alfredo Luz, Branislav Mihajlovic, Cohen Fusé, Diogo Navarro, Filipa Oliveira Antunes, Gustavo Fernandes, Joana Arez, João Feijó, José Grazina, Maramgoní, Mariola Landowska, Nadir Afonso, Paulo Ossião, Pedro Castanheira e Rui Carruço.

Na escultura – Abílio Febra, Carlos Ramos, Filipe Curado, João Sotero, Jorge Pé-Curto, Marius Moraru, Ricardo Gigante, Rogério Timóteo e Thierry Ferreira.

Árvore Interior, Filipe Curado

São sempre invulgares, imprevisíveis, as esculturas de Filipe Curado, por exemplo (perturbante, a sua «árvore interior»…). Trouxe-nos, Paulo Ossião no seu estilo inconfundível de suave aguarelista, um Tejo repousante, de monumento aos descobrimentos a querer entrar por ele adentro e, quando eu lhe disse «Vasto é esse céu, Paulo!» e ele retorquiu «Se calhar abusei, pus céu a mais», foi a minha vez de retorquir «Não, Paulo, que há aí como o céu desta nossa costa e retratado com esse cambiante de azuis, como é teu timbre fazer!? Merece espaço, oh! se merece!».

Tejo, Paulo Ossião

Intrigou-me o acrílico e gesso sobre tela, 105 x 155 cm, de Filipa Oliveira Antunes, com bem estranho título: «Arêz». «Filipa, que é isso? Um retorno às linhas direitas, à sucessão geométrica, às tonalidades suaves? E que nome estranho esse, menina!». Explicou-me, ela, mulher de Lisboa, urbana: comprara uma casinha em Arêz, mui pacata povoação entre Alcácer do Sal e Grândola; de manhã cedo, a horas certas, o padeiro anuncia-se por meio duma buzina e o pessoal vem, de taleigo na mão, abastecer-se. «Uma vida sem o irrequieto bulício da capital, meu caro José. Não resiti à tentação de passar para a tela essa paisagem, hino à vitalidade rural».

Arêz, Felipa Oliveira Antunes

Por detrás de cada quadro e cada forma se esconde, pois, uma história, uma emoção e, amiúde, até se proclama uma mensagem. Cabe ao apreciador deter-se-lhe diante e indagar, deixar-se levar de braço dado…

Uma exposição colectiva seduz, por outro lado, os críticos de Arte, que disso fazem profissão, porque sabem alinhar a preceito frases aprendidas e apreendidas nos livros da Teoria da Estética, do Mundo das Escolas Artísticas, descortinando aqui influências surrealistas, acolá o eco duma obra de Picasso, mais além a paleta de cores de Van Gogh ou os ‘traços geometrizantes’ de Nadir Afonso (também ele aqui presente com um pequeno guache da colecção da galeria). Admiro-os. Prefiro, porém (desculpem!), postar-me largos minutos diante de uma tela e deixar-me inebriar, como quem sorve, a longos haustos, água fresca de pura nascente termal.

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