A Companhia de Dança Contemporânea de Angola (CDC) regressou há dias de uma digressão e encontrou a sede ocupada. O local onde ensaia e guarda adereços e equipamentos foi para obras e destinado pelo senhorio a outras funções. Isto sem pré-aviso.
“É desolador! E humilhante! E revoltante!” gritam os dançarinos, produtores e coreógrafos da CDC que à beira de celebrar 33 anos de existência ficou sem tecto.
Estamos a falar de produção cultural de características únicas em Angola e que bem merecia algum apoio dos portugueses através, por exemplo, do Instituto Camões. Talvez fosse possível criar sinergias com organizações portuguesas vocacionadas para a produção e divulgação cultural, como será o caso da Fundação Gulbenkian. Tanto o Camões como a Gulbenkian têm orçamentos generosos para apoiar criadores culturais da estirpe do CDC Angola.
A CDC Angola é um colectivo inovador, profissional, vanguardista e histórico, sem igual no país e que o representa com dignidade, sem qualquer apoio do Estado angolano em 33 anos de existência. “Nunca fomos recebidos, nunca fomos visitados, nunca fomos chamados e o ministro nunca foi aos nossos espectáculos”, lamentam os dirigentes do CDC no Facebook, o muro das lamentações e da vergonha a que chegámos não só em Angola.
O vídeo que juntamos neste artigo foi realizado na sede do CDC, nos arredores de Luanda, em 2018. O local onde gravámos deixou de existir, mas a Companhia persiste.
Como devem ter reparado, a companhia tem uma política inclusiva, quer nas ideias que formam as mensagens que transmite com a dança coreografada por Ana Clara Guerra Marques quer na integração de deficientes físicos na dança. Um exemplo a acarinhar, sem dúvida.
Se nada se fizer, se ninguém se interessar por estes artistas, os próximos bailados da CDC Angola serão na rua.