No meio do mundo do narcotráfico

Tinha lido A Rainha da América de Nuria Amat há 5 anos e este fim de semana, após o funeral da Sara, cheguei a casa e tirei-o da estante. Não sei explicar porquê.

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A ação é violenta e decorre na Colômbia, com três personagens principais (a estrangeira Rat, o jornalista e escritor Wilson e a estranha e visionária Aida) no meio do mundo do narcotráfico, da guerrilha, do exército e dos campos de cocaína.

A narradora, Rat, leva-nos consigo na estranheza do seu quotidiano no meio da selva colombiana, na pequena localidade de Baía Negra – onde a natureza é única mas a vida é curta e longa ao mesmo tempo. Apresentada como um local de reclusão, a selva é tão escura que até o Sol circulava sem vontade… Rat chegou aqui, a El Almejal, como uma fuga e através do seu amor a Wilson, vivendo sob o medo da guerrilha. Não havia lugar mais afastado e secreto em todo o mundo, um local fechado ao turismo, onde o mar selvagem e solitário impedia a chegada de estranhos, onde se aterra apenas de helicóptero no meio da selva e de árvores que se movimentam, onde se morre e se mata apenas por pura vontade de viver.

Rat e Wilson falam de literatura, único tema que os afastava do território da morte. Wilson, como jornalista, escreve sobre o narcotráfico de Medellín, dos putos de Bogotá, das prostitutas de Cali mas nunca escrevera sobre Baía Negra, o lugar do seu nascimento ou sobre as festas para pisar coca organizadas no meio da selva.

É um livro disfórico, com passagens de prosa poética, onde chove sempre e muito… sendo essa mesma água que ajuda a iluminar um pouco a solidão das personagens. Rat é o exemplo da coragem que o amor exige, mas também do cansaço e da inércia que o mesmo pode implicar, vivendo momento a momento, outras vezes nem vivendo… Neste lugarejo sem igreja ou cinema, sem porto nem barcos de pesca, apenas o mar a unir as personagens. E o medo… Do exército, da guerrilha, dos traficantes, da própria fome… Porque no meio desta selva, há sempre um louco que ordena e outro pobre louco que obedece.

Há ainda neste livro a estranha e apaixonante personagem Aida que teria dado uma excelente guerrilheira se pensasse menos em Deus e mais no inferno.

Um livro duro, é certo! Porém, um livro com muita alma onde, todos sem exceção, se encontram cansados e à beira de se partirem em mil pedaços.

Muito bom!

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