Pinto de Campos nasceu em Lisboa, no dia 4 de dezembro de 1908 e faleceria, nesta mesma cidade, em 6 de junho de 1975. A biografia de Pinto de Campos é relativamente conhecida, já tendo sido alvo de diversos artigos, nomeadamente por parte de Luiz Francisco Rebello no Dicionário do Teatro Português. Este autor considera na História do Teatro de Revista em Portugal que a sua primeira colaboração para teatro será datada de 1931, com a estreia da revista O estaladinho, enveredando por uma carreira que o tornou, sem dúvida, o mais prolífico dos figurinistas na segunda metade do século XX. Foi ainda mestre de vários cenógrafos e figurinistas que com ele trabalharam e aprenderam a profissão, como sucedeu com Moniz Ribeiro. É um dos mais interessantes e talvez o mais mítico criador de figurinos para o teatro de revista à portuguesa. Assim, é habitualmente referenciado pelas suas criações para espetáculos no Parque Mayer e, também, para o Teatro Monumental, entre outros. Teve um percurso muito curioso, nomeadamente o exílio autoimposto no Egito, o que não o impediu de colaborar em espetáculos que, ao mesmo tempo, se realizavam em Portugal, nomeadamente no muito importante espetáculo de teatro de revista Viva o Luxo!, a pedido do empresário e amigo Vasco Morgado, que aliás o publicitava no programa do espetáculo, em caixa com particular destaque: «VASCO MORGADO testemunha publicamente a sua gratidão ao grande artista português Pinto de Campos, que do Cairo enviou a sua admirável colaboração em figurinos e maquetes de cenário para esta revista».

Pinto de Campos nunca foi particularmente instaurador ou revolucionário, mas considera-se que limitar o seu trabalho meramente ao teatro ligeiro é, de alguma forma, menorizá-lo e tal não corresponde em absoluto à verdade, tendo este criador trabalhado também para teatro mais erudito, nomeadamente para espetáculos baseados em peças de Shakespeare ou Ibsen, como o prova também a colaboração com o Teatro Experimental de Cascais.
Com esta companhia, colaborou para vários espetáculos, nomeadamente Comissário de Polícia, Um Chapéu de Palha de Itália, Antepassados, Vendem-se e Bodas de Sangue, realizados entre 1968 e 1970, todos encenados por Carlos Avilez.

Em dois casos, no Comissário de Polícia, com texto de Gervásio Lobato, levado à cena no ano de 1968 e em Um chapéu de palha de Itália, datado de 1970, a 19.ª produção da companhia, há claras afinidades na conceção dos figurinos, apresentando estes denominadores comuns, entre um verismo, muito perto da reconstituição histórica, mas evidenciando também algum pendor para o burlesco, aproveitando as potencialidades mais festivas da indumentária, o que se faz pelo sentido do registo de comédia existente nos textos, que é claramente amplificado pelos figurinos de Pinto de Campos, num registo que este traz para perto do Teatro de Revista.
Veja-se o figurino que criou para a personagem do “Conselheiro Faustino Soares” do espetáculo Comissário de Polícia, que viria a ser interpretada por Santos Manuel ou a ilustração para o figurino para a personagem “Baronesa” para o espetáculo Um chapéu de palha de Itália, interpretada por Lígia Teles.

Nos figurinos criados para Bodas de Sangue, um espetáculo apresentado em 1968, adotou uma abordagem completamente diferente que, aliás, se pode mesmo considerar oposta às outras criações que anteriormente havia assinado, com uma construção muito contida nos desenhos, tão díspares de todos os outros conhecidos do autor, caso das ilustrações para a criação dos figurinos das personagens “Lua” que seria protagonizada por Nuno Fernandes e “Noiva”, que seria interpretada por Maria do Céu Guerra, mas o mesmo se passando com as outras ilustrações conhecidas para figurinos deste espetáculo.

Em jeito de conclusão, convido-vos a descobrir este notável autor, com obras dispersas em muitas coleções particulares, mas abundantemente representado no Museu Nacional do Teatro e da Dança, que merece visita, mas ainda na página da Internet do Teatro Experimental de Cascais, onde também estão publicadas muitas fotografias dos espetáculos desta companhia, sendo possível ver imagens dos espetáculos aqui referidos, desta tão importante, mas ao mesmo tempo tão desconhecida, personalidade do teatro em Portugal.