Visam estas Jornadas consciencializar a população, designadamente a população estudantil, para o interesse histórico-patrimonial que detêm os vestígios arqueológicos.
Restos palpáveis do que foi a vida dos que, nos mais diversos locais, antecederam os actuais habitantes, chamar a atenção para esses monumentos contribui, naturalmente, para tornar a História local mais presente e para, por outro lado, mostrar como esses ‘restos’ do passado têm, na verdade, quer sejam pedras com letras quer sejam aparentemente informes calhaus, uma história para contar. Assim haja quem lhes dê essa voz.
Tal aconteceu, sem dúvida, um pouco por todo o País e na Europa, no âmbito dessas Jornadas. Sirva-nos como exemplo o que se passou em Armamar.
Recordaram-se, por exemplo, as importantes inscrições romanas ali descobertas; contudo, a ida ao campo de estudantes e docentes, na freguesia de S. Cruz, foi decerto o que mais entusiasmou, por assim se ter podido assistir ao vivo à acção que ali foi desenvolvida, com o apoio e por iniciativa da Câmara Municipal. Esteve presente a Dra. Cláudia de Jesus, vereadora da Cultura, e técnicos municipais.
No canto dum pomar, havia sido identificado um marco, que, embora, sem letras, se poderia, sem dúvida, atribuir à época romana, porque assinalara uma das muitas vias que pela região os Romanos, há mais de 2000 anos, haviam traçado para facilitar as comunicações por esses montes e vales. No topo superior do marco, fora gravada uma cruz, o que demonstrava ter sido reaproveitado para delimitar os campos pertencentes a um dos mosteiros próximos, o conhecido mosteiro de Salzedas.
Junto a esse marco, porventura aproveitando a sua localização – porque as extremas até poderão ter-se mantidos ao longo dos séculos – um outro havia, esse, sim, com letras: DE / V. Trata-se da habitual menção à Universidade de Coimbra. De fato, no século XVIII, à Universidade de Coimbra foram atribuídas muitas terras e as entidades – com receio de que pudessem acontecer usurpações – apressaram-se a pôr essas pedras a demarcar os limites das suas propriedades.
Dois monumentos, portanto, com larga história atrás de si.
E o que se programou então?
Depois de as peças haverem sido estudadas e publicadas, tendo-se cuidadosamente registado o local (com as respectivas coordenadas cartográficas) onde haviam sido encontrados, importava que essa memória se mantivesse indelével. Sujeitos, ali, às intempéries, e por serem de um granito passível de se ir esboroando, optou-se por devidamente as salvaguardar a bom recato e dar-lhes o devido relevo, numa das instituições museológicas municipais.
Por conseguinte, uma equipa de trabalhadores camarários deslocou-se ao sítio e, depois de os estudantes terem sido elucidados acerca do significado dos dois monumentos, procedeu-se cuidadosamente ao seu desenterramento, limpeza sumária e remoção.
Foi, no fundo, uma lição de património ao vivo e os jovens puderam, assim, inteirar-se de como é que este tipo de monumentos pode aparecer. De certeza que, doravante, o seu olhar para o que os rodeia, mormente as pedras antigas, vai passar a ser muito mais perspicaz.
(Artigo em co-autoria com José Carlos Santos)
Armamar e as Jornadas Europeias de Arqueologia.
Eu olho para pedra, pedras, como para pessoas. A palavra tem Poesia.
Pergunto-me sempre quem se teria sentado nelas, que mãos calejadas lhes teriam pegado para as empilhar sabiamente em paredes que perduraram séculos.
Pedras são História. Embora incapazes de falar dela, contam-na a seu modo.
Mas eis que venho encontrar aqui um marco romano que teria delimitado os terrenos do Mosteiro de Salzedas, do século XII.
Quem cedera os terrenos pra a construção desse mosteiro? Teresa Afonso, segunda mulher de Egas Moniz e, segundo alguns autores, filha do conde de Celanova, lá para Ourense.
Esta senhora pode ter criado Afonso Henriques, sendo mais certo que tenha criado os filhos como ama. E por isso este texto me conduziu de novo a esta época de que tanto gosto para inspirar o meu trabalho.
Estou sempre a esbarrar em Afonso e no caso deste texto, agradeço-te muito por isso.
Um abraço, José d’Encarnação.
Quem me diria, Helena, que mui singelo marco alvo de mui singela iniciativa didáctica te levaria de novo aos braços do teu Afonso! Fico contente por isso. Abraço retribuído!