Resulta a iniciativa da ideia de se mostrar, em primeiro lugar, que «um museu encerrado não precisa de ser uma instituição adormecida». De facto, o Museu Nacional de Arqueologia encontra-se encerrado para remodelação profunda, no âmbito da utilização de verbas provenientes do PRR. Depois, porque pode evidenciar-se assim «a dialética entre os bens culturais arqueológicos do Museu Nacional de Arqueologia e a coleção de património energético, exposta em permanência na Fábrica da Eletricidade». Ou, por outras palavras, mais bonitas, celebrar a «liberdade criativa e imaginativa com que a humanidade soube aproveitar, manipular e potenciar os recursos naturais».
Aproveitou-se, pois, para colocar quase lado a lado a maquinaria pesada que outrora proporcionava a Lisboa a energia eléctrica e os utensílios das colecções do Museu Nacional de Arqueologia, recolhidos em escavações e que documentam, por isso, prístinas formas de o Homem produzir e utilizar a energia de que necessitava. Um diálogo deveras interessante.

Numa das vitrinas mostra-se a inscrição romana datada do ano 16 antes de Cristo que refere a doação aos habitantes da civitas Igaeditanorum, a actual Idanha-a-Velha, de um «orarium», ou seja, de um quadrante solar, a par dos relógios da actualidade.

Convivem as armas d’outrora (um machado pré-histórico, um punhal e uma espada) com os instrumentos de agora.

Os antigos recipientes de cerâmica e fragmentos de mosaicos romanos com figuração de peixes e de lulas estão perto da reconstituição do cansativo trabalho dos operários a manter acesas as fornalhas para a produção de energia eléctrica. Pulos de séculos, a mesma energia, a mesma vontade.
Iniciativa “pouco habitual” a aplaudir. Uma inteligente exposição a não perder.

Foi a exposição inaugurada no passado dia 23 de Abril com pompa e circunstância, pois contou com as presenças da Secretária de Estado da Cultura, Maria de Lurdes Craveiro; do Administrador da Fundação EDP, Miguel Coutinho; do Presidente da Administração da Museus e Monumentos de Portugal, Pedro Sobrado; e dos Diretores das instituições parceiras João Pinharanda (MAAT) e António Carvalho (MNA). Estará patente ao público até 7 de Outubro, sendo visitável de quarta a segunda-feira, das 10 às 19 h.
Aqui está uma forma inteligente de divulgar saberes de várias épocas e proveniências, reconhecendo parte da evolução das ENERGIAS.
As diferentes áreas do conhecimento não sobrevivem em compartimentos estanques. É por isso muito bem pensado que um espaço aberto, ceda a outro, temporariamente encerrado, lugar para se exprimir no sentido da continuidade.
Grata a José d’Encarnação por nos dar informação desta exposição. Primeiro desperta a necessidade de se reflectir na importância do aproveitamento das energias renováveis. Depois ficamos a saber que até Outubro pode planear-se uma ida ao MAAT, às Salas das Caldeiras e dos Cinzeiros da antiga Central Tejo, um passeio à beira do rio. Tanta coisa para ver com tanta economia de tempo.