Os comentadores da Nação

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Depois das peripécias na Assembleia da República com a eleição do actual presidente, José Pedro Aguiar Branco, à formação do novo governo, que tomará posse na próxima terça feira, tem-se assistido invariavelmente a uma mudança no discurso e na narrativa do comentário nacional, tanto no tom como na argumentação, tendo como novo protagonista na liderança do governo o PSD, e não o PS.

Admitindo que ao invés de uma vitória escassa da Aliança Democrática (AD) tivéssemos uma vitória escassa do PS, o contexto económico em nada mudaria. Haveria na mesma um saldo positivo nas contas públicas, a dívida teria baixado, mas exigir-se-ia ao PS que cumprisse as promessas feitas em campanha, sem subterfúgios, “eles que têm duas linguagens distintas, a roçar a demagogia, antes e depois das eleições”.
Já no caso da vitória do PSD, onde o discurso de pré campanha de Luís Montenegro parecia por vezes mais o de um “líder trabalhista” do que o de um liberal, tentando apagar as más memórias do ‘Passismo’, o que se lhe exige é parcimónia. 

Há duas semanas dava-se tudo. Até um salário mínimo de 1000,00€ em 2028. Reposição da carreira dos professores em 5 anos. Polícias com suplentes de função dignos. Eles que entre 2011 e 2015, apenas subiram 40,0€ o salário mínimo e a muito custo. 
Acabada a contenda eleitoral, há que deitar ao lixo quase tudo que foi dito e prometido pela AD. A comunicação social encarregar-se-á de dar uma ajuda, que o país não está para devaneios consumistas. Aliás já há mais de duas semanas que as urgências hospitalares deixaram de ter jornalistas à porta! Será que acabou a crise no SNS só por termos um novo quadro parlamentar, mesmo sem governo em funções?

Esquecem-se de um pormenor insignificante mas que fará toda a diferença. Ao contrário das situações passadas, o país não está com um resgate à vista, nem “de tanga”. Melhorou o seu rating nas agências de notação financeira, o déficit está abaixo de zero, e teve o saldo orçamental positivo de 3,1 mil milhões de euros. Cumprimos enfim os critérios da União Europeia (UE), essa instituição sempre pronta a exigir sacrifícios aos pequenos, mas a quem franceses e alemães mandam às malvas, pois sabem melhor do que ninguém, que um resgate na sua zona geográfica equivale ao fim da UE, e, quiçá, da própria Europa, tal como a conhecemos hoje.

Portugal vive numa realidade paralela. A do dia a dia, a qual não se esfumará, e a do comentário nacional. Claro que esta última será suavizada pelos “analistas do regime”. Não fosse essa a sua função. Já a outra manter-se-á, para gáudio do Chega, que, enquanto não tiver as portas do PSD abertas para o escancarar de vez, não lhe dará descanso, reivindicando sempre e mais. 

Daí eu inferir que o “não é não” terá vida curta. 

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