As sucessivas guerras contra árabes e palestinianos têm resultado em conquistas territoriais para Israel. Esta última que se trava na Faixa de Gaza, não vai fugir à regra. Desde 7 de outubro que dirigentes políticos alimentam o público israelita com a ideia de ocupar os territórios palestinianos. Ao argumento da punição exemplar junta-se o da segurança coletiva dos judeus.
E, assim, quer em Gaza quer na Cisjordânia, as populações palestinianas estão a ser expulsas.
O jornal israelita Haaretz publicou uma extensa reportagem sobre ataques de colonos judeus a povoações palestinianas, na Cisjordânia. Atacam casas, destroem propriedades, matam pessoas. Ações concertadas e com a cobertura dos militares que, em caso de resistência dos palestinianos, ajudam os colonos a matar, espancar e a queimar.
A reportagem do Haaretz traz vários casos concretos.
Domingo de manhã, 14 de abril, Imad Abu Alia da aldeia de Al-Mughayyir consegue ligação telefónica com familiares: “Estou no hospital desde sexta-feira”, disse. Sem perder tempo a descrever os seus ferimentos, falou das suas ovelhas e cabras: “Roubaram todo o rebanho, 120 ovelhas.” E não foi a primeira vez que israelitas lhe roubaram tudo o que tinha.
Nos últimos meses, o Haaretz recolheu provas de vários casos de israelitas armados – por vezes com uniformes das Forças de Defesa de Israel e geralmente vestindo trajes religiosos judaicos – que roubaram ovelhas e cabras aos palestinianas. Os incidentes ocorreram em locais onde o número colonatos israelitas cresceu muito na última década. Colonatos erguidos sem autorização formal e ilegais de acordo com a lei internacional. Mas prosperaram.
Abu Alia diz que os colonos o espancaram com paus e pedras. Perdeu a consciência. Ninguém filmou os incidentes, talvez porque estavam demasiado ocupados a tentar salvar-se a si próprios. Mas os ferimentos que sofreu oferecem amplas evidências do que aconteceu.
A casa e o curral de ovelhas, juntamente com cerca de 12 outras casas e cerca de 30 carros, foram incendiados pelos atacantes, sob vigilância dos soldados das FDI. Mais tarde, 20 cabras foram encontradas mortas a tiro, deitadas no sangue no curral de ovelhas de outro aldeão.
Nesse ataque, Jihad Abu Alia, de 25 anos, foi baleado e morreu devido aos ferimentos. Moradores dizem que ele foi baleado por um civil israelita, não por um soldado.
Noutro ataque, muitas ovelhas foram roubadas à família Ghnaimat e a um vizinho da aldeia de Kafr Malik. Cerca de 14 israelitas – civis e soldados – emboscaram-nos enquanto cuidavam dos seus rebanhos nas encostas de uma montanha a oeste da Allon Road. Durante o ataque, seis das pessoas vestidas com roupas civis levaram cerca de 350 ovelhas, relata o jornal Haaretz citando declarações de Abdel Karim Ghnaimat.
Noutro local, a 11 de outubro do ano passado, os israelitas roubaram cerca de 150 ovelhas a uma comunidade de pastores em Al-Qanub, no distrito de Hebron. Posteriormente, oito famílias da comunidade foram forçadas a deixar as suas casas sob a crescente ameaça de violência.
No final de novembro, colonos judeus invadiram a aldeia beduína de Ma’arajat ao norte de Jericó e roubaram 20 ovelhas. Em 10 de fevereiro, outros israelitas terão roubado seis ovelhas na aldeia de Qarawat Bani Hassan, na província de Salfit.
Um dia antes, os israelitas roubaram cerca de 200 ovelhas e cabras pertencentes a Riyad Shalaldeh, de 32 anos, da aldeia de Kobar, a noroeste de Ramallah. Todos os casos de assalto são acompanhados de violência física e, por vezes, de assassinato de palestinianos. Há ainda relatos de palestinianos que foram levados e torturados, apenas porque sim.
São inúmeros os casos de famílias palestinianas que abandonam as suas propriedades, com medo de perderem a vida. Sob agressões e ameaças constantes, espoliados, obrigados a pagar preços exorbitantes pelas rações para os animais a intermediários israelitas, acabam por desistir e vender tudo ao desbarato. Os compradores são sempre israelitas.
A violência sistemática, que tem sido ignorada pelas autoridades israelitas, em 2021-2022 fez com que mais de uma dúzia de comunidades agrícolas abandonassem as suas propriedades, na região perto dos colonatos de Rimonim e Kochav Hachachar.
É isto que está a acontecer por todo o lado, na Cisjordânia.
Fonte: jornal Haaretz