UM ENIGMA

Será um altar romano? Pelo sim pelo não, o melhor é fotografar e pôr-se ao trabalho. E o resultado aí se partilha!

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«Em 2018, na sequência do trabalho de campo que encetei para a minha dissertação de mestrado sobre arquitetura popular na província histórica de Beira Baixa, cruzei-me com um curioso marco territorial, que fotografei. Passados estes anos, tornei a cruzar-me com a fotografia que fiz na altura e, olhando-a com outros olhos coloquei a possibilidade de poder ser mais que um simples ponto de extrema – possivelmente uma ara votiva» – contou João Pedro Ferreira Salvado.

Dessa partilha nasceu a nota que se vai escrever sobre a pedra com letras – e que por isso chamou a atenção de quem passa – que está na R. da Fonte Coberta, na Lardosa, sobre um muro. Lardosa é freguesia do concelho de Castelo Branco.

A tipologia de pedra, nomeadamente o formato e a molduração que separa o capitel do fuste aproximam-na, inegavelmente, dos monumentos romanos epigrafados. Na parte superior do capitel foi delimitado por filete um quadrado como que para assinalar a colocação de algum elemento (escultura?).

Poderia, pois, apontar-se para ter havido o reaproveitamento dum monumento romano para função posterior; nesse caso, porém, haveria algum resquício de gravação na superfície dianteira ou na posterior, mormente se se estivesse em presença de uma epígrafe. Não há. E, ao invés, na face anterior há, esculpida em relevo uma bem recortada corola hexapétala e, sob ela, como que num plinto também em relevo, está gravada a data de 1899.

Terá sido cortada a base primitiva, porquanto a base actual sobre que assenta foi ajustada. Nela foram gravadas as letras PNAV M, quase dando a entender a parte inferior do letreiro que se pretendeu figurar aí como que degraus dum lado e doutro.

A corola constitui elemento decorativo floral corrente em todos os tempos, dada a graciosidade ímpar do seu traçado.

A data de 1899 deve ser futuramente encarada pelos historiadores locais, procurando-se saber se estará ligada a alguma iniciativa ou acontecimento importante a nível da vila. Consultando as efemérides desse ano a nível geral, apenas haveria a salientar a assinatura do Tratado de Windsor, em que Portugal abdica, perante a implacável  e usurpadora Inglaterra, dos territórios entre Moçambique e Angola, a chamada «Questão do Mapa Cor-de-Rosa», que, mui justamente, grandes engulhos causou aos verdadeiros patriotas, que já sonhavam com a instauração da República. Não se crê, porém, que haja qualquer relação possível a estabelecer aqui.

As iniciais da base apontam, como é natural, para a parte final duma alminha, por se incitar o transeunte a rezar um Padre-Nosso e uma Ave-Maria, pelas almas do Purgatório.

E assim se vê como uma pedra singela, meio abandonada por todos, pode suscitar interrogações e, sobretudo, pode chamar a atenção para a oportunidade da sua preservação. Não sabemos ainda qual terá sido, na altura, o seu inteiro significado. Possivelmente, ainda o viremos a saber; e, por isso, até lá, «preservação» é palavra d’ordem!

Artigo em co-autoria com João Salvado

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