O QUE FIZERAM AOS MÉDICOS?

Não há médicos. Ou emigraram, ou mudaram de profissão, ou foram trabalhar para o privado. Não são só os hospitais que fecham serviços, incluindo urgências, mas também os centros de saúde estão a ficar sem meios para atender as populações.

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Hoje, há centros de saúde que demoram dois meses a entregar receitas de medicamentos pedidas pelos utentes. “É por ordem de chegada, a sua receita vai ser passada dia 31 de outubro. Como 1 de novembro é feriado, venha cá no dia 2”, relata um cidadão a quem pedimos um depoimento à porta do centro de saúde da Venda do Pinheiro.

Não importa se são medicamentos para doenças crónicas, agudas ou em evolução. Não importa se são medicamentos essenciais para o dia-a-dia do cidadão. “É por ordem de chegada do pedido de receita médica”.

Os médicos de família desapareceram ou estão em vias de extinção. Consultas do dia, não há. Consultas marcadas por um médico que entretanto se foi embora, são adiadas sine die. O que fazer com resultados de análises ou de exames que tinham sido pedidos, ninguém sabe responder. Não havendo consultas, não há médico a quem mostrar os exames clínicos efetuados. Estamos a falar de procedimentos realizados através do SNS, que o Estado paga aos laboratórios e clínicas privadas que os executam. Além de ser dinheiro deitado à rua, perdem-se também oportunidades de despiste atempado de doenças e, consequentemente, a possibilidade de as tratar precocemente. Não é só um prejuízo para a saúde das pessoas, é também um prejuízo imenso para o Estado que, mais tarde, terá de pagar tratamentos mais dispendiosos para doenças que evoluíram, entretanto.

1 COMENTÁRIO

  1. Sei de casos semelhantes. Por exemplo, nunca uma chamada do telefone fixo é atendida. Um email só terá seguimento se não for urgente, informa uma resposta automática, e assim mesmo, tê-lo-á só para casos específicos.
    A culpa é do volume de correio recebido, dizem.
    De resto só em consulta presencial, mas…
    A minha próxima consulta, por exemplo, está agendada para Janeiro, o que significa cerca de seis meses depois da anterior. Posso sempre consular um privado, claro…
    Uma consulta do dia para casos considerados urgentes pelo paciente, que antes se podia obter apenas em dois passos, implica agora telefonema para o SNS 24 e, conforme indicação de quem atende, ou seremos mandados para o Centro de Saúde, ou para…
    Muitas indefinições, como convém.
    Tempos houve em que pediam que tentássemos resolver no Centro, para não sobrecarregar as urgências dos hospitais, mas os tempos mudam.
    A mudança indicia tendência para acabar com um serviço público (gratuito e exemplar, apesar de falhas tanto mais compreensíveis, quanto maior a pressão exterior para que existam).
    Como em outros sectores poderosos visando lucro, também no da Saúde os privados espreitam o momento de abocanhar por completo o SNS. Tudo no sentido de encurtar as vidas suspensas por problemas graves.

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