O amor incondicional

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Só há pouco tempo soube o teu nome.

Encontrei-te por acaso uma vez e fui ter contigo dois dias depois sem ter a certeza de te voltar a ver.

Esse breve instante encheu-me de esperança. Fiquei com os teus cheiros, a melodia da tua voz, a sensibilidade dos teus gestos e o teu paladar que inebria, boca molhada que não tive tempo de saborear.

Não tenho nada teu, nenhuma recordação, fotografia ou pertence. Apenas um número que me vai respondendo amavelmente mas sem aparecer.

Desde então procuro por ti com a paciência de quem pescava no rio, ali para o cais do Sardão, ou jogava xadrêz no Orfeão de Águeda.

Disseram-me que não voltaste mais onde te vi e também nunca mais souberam de ti.

A ausência é fodida. Destrói lentamente, não deixa fazer o luto, perpetua a ilusão. E se gosto da ilusão!

O amor é incondicional. Não tem barreiras. É dádiva e partilha. Não olha a meios, dá-se por inteiro sem esperar nada em troca e mesmo quando parece reclamar, está apenas a pedir atenção.

O amor devia ser, obrigatoriamente, correspondido. Era mais justo para os amantes.

Fiquei apaixonado assim por ti depois de te olhar nos olhos. Diria mais, que é impossível não te amar. E ficar em vão à espera de ser correspondido.

O tempo corre contra mim. Noutras vidas lutei e competi mas esta é desigual e provavelmente terei chegado tarde. A vida, tal como a areia, escapa-se-me por entre os dedos das mãos.

Um amor sem corpo é um amor platónico, sem afectos, sem ternura, sem o fogo do sexo e da paixão, não vai resistir ao teste do tempo.

De ti só tenho o nome. Um nome. Até quando Isabela?

Dizes que é necessário esperar, saber aguardar a oportunidade, aprender a conhecer, saber ler os sinais.

Sigo, faço, cumpro, obedeço. Tento compreender o teu lado, completamente às cegas porque, no final, se houver amor, ele também virá incondicional.

Escrevo-te porque não tenho outra forma de te fazer chegar a mensagem, porque te queria levar a passear nos jardins da Estufa Fria, comer um gelado à Conchanata, namorar na Gulbenkian, quem sabe?

De todos os homens sou o único que não tem o privilégio da tua companhia mas fui aquele que correu para ti e não desistiu, aquele que voltou ao local e esperou que aparecesses outra vez para te pedir o número do teu telefone. Lembras-te? Só lá voltei para me dares o teu número de telefone.

Contei-te a minha vida toda num beijo e ainda hoje trago na boca as notas de maresia amadurecidas no teu ventre.

Lá para o fim da tarde regressei com a certeza de que no dia seguinte, a minha vida, a nossa vida, iriam mudar mas ainda estou à espera.

Primeiro deixei de contar os dias, depois os meses. O olhar perdido no horizonte como se a terra fosse plana.

Escreveu o poeta que não sei qual foi, mas foi para ti.

Ficarias comprometida se dissesse que te amo?

O autor escreve segundo o antigo Acordo Ortográfico.

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