PAGAR PELOS CRIMES DO PASSADO

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Quando Marcelo falou na necessidade de Portugal pagar dívidas históricas, contraídas pelo colonialismo, ocupação de territórios que não lhe pertenciam, massificação da escravatura, usufruto indevido das riquezas desses territórios, estaria a antecipar-se a algum dos chefes de Estado que, por estes dias, estiveram em Lisboa para as comemorações dos 50 anos do 25 de abril. Ou isso, ou quis ficar bem na fotografia.

Creio que nenhum jornalista questionou nenhum desses chefes de Estado dos países de língua portuguesa. Foi uma oportunidade perdida de aprofundar esta questão. Uma não, sete oportunidades. Teria sido interessante perceber o que pensam sobre isto pessoas como João Lourenço, de Angola, ou Umaro Sissoco Embaló da Guiné-Bissau.

O atual primeiro-ministro português não reagiu bem. Montenegro alinha com a extrema-direita, no que diz respeito a não reconhecer os erros e as injustiças do colonialismo português. É evidente que seria ridículo oferecer uma indemnização pecuniária a países muito mais ricos que Portugal. Para que querem o Brasil, Angola ou Moçambique, uma indemnização pífia por séculos de discriminação e abusos? Corríamos o risco de ver o “pagamento” recusado, o que seria uma humilhação.

Mas que lhes ficamos a dever, isso ficamos. É uma dívida para a eternidade. Pelo menos, enquanto existir a atual divisão política do mundo, com as fronteiras que o colonialismo estabeleceu em África ou na América do Sul.

O colonialismo, genocídios e a escravatura são crimes contra a Humanidade. Não prescrevem, enquanto houver memória deles. Os crimes cometidos por um Estado são sempre pagos, tarde ou cedo. Muitas vezes em retaliações sangrentas. A História está cheia desse tipo de vinganças, mesmo nos dias de hoje.

Por uma vez, Marcelo fez bem em falar. O passado não pode ser apagado por uma esponja húmida.  

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