MUNDIAL DE FUTEBOL 2030: UCRÂNIA “FORA-DE-JOGO”

Foi em outubro de 2022 que o Presidente da FPF disse ser "uma honra anunciar que Portugal e Espanha incorporaram a Ucrânia na candidatura conjunta ao Mundial 2030. É por isso que aqui estamos hoje”, garantia Fernando Gomes em Nyon, na Suíça.

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Há uns meses atrás, estávamos no início do Outono, o presidente da FPF, Fernando Gomes, o presidente da Real Federação Espanhola de Futebol, Luis Rubiales, e o presidente da Federação Ucraniana de Futebol, Andriy Pavelko, apresentaram à UEFA e à comunicação social, uma proposta para a realização conjunta do Mundial de 2030, pelos três países. A UEFA segundo rezam as crónicas apoiou a medida.

A candidatura em outubro de 2022

Não estivéssemos nós no período mais ensurdecedor da propaganda entre os dois beligerantes, da orla do Mar Negro, e no auge do conflito bélico, olhávamos para esta proposta, como um estado de alucinação dos dirigentes desportivos dos três países envolvidos. Mas aquilo era mesmo para levar a sério? 

A candidatura em março de 2023

Eis para meu espanto, quando ouço ontem o Presidente da Federação Marroquina de Futebol anunciar a participação do seu país, com Portugal e Espanha, na organização do Mundial de Futebol em 2030. Isto tudo com a bênção de António Costa e, presume-se, do Professor Marcelo, ele que é um especialista em eventos mediáticos, ainda que nessa altura nenhum deles esteja no poder.

Então, em que ficamos?

Se é verdade que as distâncias quilométricas hoje tendem a reduzir-se, muito por culpa da evolução dos meios de transporte e das telecomunicações, o facto é que da Ucrânia a Lisboa são cerca de 4 horas de avião. Kiev está a dois fusos horários de Lisboa, uma decisão política, uma vez que na realidade são três fusos meridianos. Por exemplo, Istambul no mesmo meridiano tem uma diferença horária de 3 horas de Lisboa. 

Quem olhar para o curso desta guerra e a destruição gerada pela invasão russa em território cossaco, percebe que depois de esta terminar, será que podemos usar esta expressão (?), eu iria mais para um armistício, a Ucrânia como país independente estará num estado caótico, das infraestruturas à sua economia e organização demográfica. A própria democracia será uma miragem, no curto prazo.

A própria recuperação económica da Ucrânia, se os EUA não atingirem os seus objectivos estratégicos na zona, acabará como todos os outros países mais pequenos onde houve intervenções armadas directas ou indirectas, por parte das grandes potências, entregue a si própria, com ajudas financeiras muito aquém do necessário para saírem do atoleiro em que se encontram. Foi sempre assim, não é agora que vai mudar.

Então qual a razão daquele devaneio psicológico dos dirigentes federativos dos dois países ibéricos, apoiados de certa forma pelo poder político, para incluírem a Ucrânia na sua candidatura ao Mundial de Futebol, no final desta década? Puro populismo e demagogia para agradar a uma legião de néscios, que acha a guerra uma brincadeira, que se resolve num jogo de futebol entre dois rivais. Não, a guerra é a destruição das nossas vidas presentes e futuras. Há jovens ucranianos nascidos depois do início do conflito com uma perspetiva de vida digna muito baixa. 

Se a Ucrânia tiver alguma sorte no meio daquela enorme tragédia, recebendo uns largos milhares de milhões de euros dos cofres comunitários, para se reerguer de novo, o futebol será sempre algo de secundário, diante de tantas necessidades bem mais prementes, como reconstruir hospitais, escolas, creches, universidades, estradas, vias férreas, e pôr a economia a funcionar. Aquilo que me entristece é ver políticos irresponsáveis a fazerem a guerra apenas pela sua voracidade imperialista, e outros que utilizam a demagogia para mostrarem uma falsa solidariedade com quem perdeu tudo na vida.   

1 COMENTÁRIO

  1. O último parágrafo deste texto, de forma especial as três últimas linhas, definem de forma exemplar toda a hipocrisia da política mundial e a irracionalidade da política doméstica dos diferentes países.
    Os primeiros conduzidos pela obsessão de conquista de território, os outros para saltarem um patamar ou mais na hierarquia social e obterem privilégios, sem a menor noção de serviço público, ou respeito pelos que deviam proteger.
    Nem sequer bons príncipes, segundo a caracterização exemplar de Maquiavel. E como diz Rui Naldinho, uma tristeza que não conseguimos diluir na passagem dos dias.

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