Com alguma frequência, temos notícias sobre o surgimento de bactérias resistentes aos antibióticos e lemos nos jornais que devemos evitar o uso inapropriado desses medicamentos porque, precisamente, tornam o organismo menos resistente às infeções bacterianas.
É uma meia-verdade que esconde uma realidade ainda mais tenebrosa. Não precisamos de nos automedicar para ingerirmos antibióticos em quantidades disparatadas. Eles vêm na carne que consumimos.
Os ambientalistas dizem-nos que os antibióticos ingeridos com a carne que compramos no talho ou nos restaurantes provocam a morte de mais de 1 milhão de pessoas por ano, em todo o mundo. E que há mais 3 milhões de mortes anuais causadas por doenças que não foram combatidas com sucesso por causa da capacidade de resistir adquirida por algumas bactérias. São números estimados, talvez com pouca precisão, mas indiciam um panorama muito preocupante para a saúde pública, principalmente em países de maior consumismo da população.
É verdade que os animais às vezes precisam de antibióticos para combater infeções, mas a indústria de carne usa esses medicamentos como uma medida preventiva, não para combater infeções pontuais. As rações animais já têm antibióticos na composição. Todos os animais comem o mesmo, mesmo não precisando de serem medicamentados.
PESTICIDAS E ANTIBIÓTICOS
Os ambientalistas acusam os organismos de regulação dos medicamentos e de vigilância da saúde pública, de todo o mundo, de inércia e compadrio com a industria alimentar, principalmente as grandes multinacionais, como será o caso da McDonald’s, por exemplo. O jornal The Guardian diz que há mais multinacionais a vender alimentos “sujos” com antibióticos.

Os hambúrgueres fast-food nunca tiveram boa fama, mas são relativamente baratos e, no caso da McDonald’s, consumidos em média por mais de 69 milhões de clientes por dia em mais de 100 países. É um grande negócio à escala global.
Para serem baratos, a indústria tem de fornecer ao retalho carne barata. Os animais precisam de crescer depressa. É aqui que entram em ação os antibióticos. A acompanhar o hambúrguer de carne, queijo, alface, cebola e ketchup, o pão de semente de gergelim, para além dos pesticidas, lá estará também uma boa dose de antibiótico que não deixa sabor mas ajuda a produzir no organismo as chamadas “superbactérias” multirresistentes que podem ter implicações desastrosas na saúde humana, tal como já reconheceu a Organização Mundial de Saúde.

O problema tem uma equação simples: com o aumento da população mundial o negócio alimentar cresce exponencialmente, a margem de lucro sempre cada vez maior, no fim todos morremos.