ADRIANO MOREIRA, o último pendão

É quase o último dos salazaristas ainda vivos. Além dele, só Basílio Horta. Mas Adriano Moreira é homem de uma ética política superior. Nunca se vendeu a outros partidos políticos e nunca renegou as suas ideias a troco de umas moedas.

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O filho do polícia António recebeu ontem o grau de Doutor Honoris Causa do Instituto Universitário Militar. Falamos de Adriano Moreira, um homem de qualidades raras.

Adriano Moreira faz 100 anos no próximo dia 6 de setembro. Já recebeu todas as honrarias que lhe seriam devidas, esta terá sido a última, porventura. Não as vamos enumerar, seria uma chatice inútil.

Adriano Moreira foi um vislumbre do que, após a queda do salazarismo, podia ser a direita democrática. Inteligente e culta. Elitista no bom sentido. Interessada no bem comum. Os herdeiros não ligaram ao legado. Foi uma pena.

Antes do 25 de abril, chegou a ser preso pela PIDE por ligações à oposição, mas deixou-se seduzir pelo ditador e foi ministro do regime. Ministro do Ultramar. Foi ele quem acabou com o Estatuto do Indigenato que legalizou a discriminação e o racismo nas antigas colónias portuguesas. Foi ele que reabriu o Campo de Concentração do Tarrafal com o nome mais poético de Campo de Trabalho de Chão Bom.

Adriano foi um fascista suave do seu tempo, defendeu a mentira do lusotropicalismo, mas soube regenerar o pensamento e acompanhar a evolução das ideias que o tempo lhe trouxe. Distinguiu-se pela retórica como professor, como político e como comentador da política.

A direita não o assume plenamente, por vergonha de não ser capaz de lhe chegar aos calcanhares. E então, faz umas cerimónias assim meio envergonhadas, ao fim do dia.

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