As chamadas “avenidas novas” de Lisboa já foram, em tempos, uma zona bem interessante da capital. Bairros residenciais da burguesia, as avenidas novas aglomeravam, talvez, o mais belo espólio arquitetónico da cidade. Ruas desenhadas a régua e esquadro, bom ordenamento urbanístico, bom gosto e dinheiro no bolso dos residentes fez nascer por ali moradias requintadas.
Há 150 anos construíam-se casas muito bonitas. Hoje, já quase tudo desapareceu. O que ainda resiste são raros edifícios classificados com o “Prémio Valmor”, protegidos por Lei contra o desvario da especulação imobiliária.
E depois há o que ficou esquecido e abandonado, como é o caso do 35 da Avenida Barbosa du Bocage. Uma moradia familiar, com garagem no r/c e dois pisos superiores. Deve ter, nas traseiras, um belo e espaçoso jardim, mas não foi possível confirmar se o jardim existe.
O abandono não é de ontem. Nota-se pelo reboco que cai, pelos vidros baços e partidos. Mas a casa tem dono. O cadeado evidencia a preocupação de alguém em manter o local resguardado. Não serve para os proprietários, mas também não serve para nenhum sem abrigo que procure um canto para fugir da chuva e do frio.
Esta moradia deve ter mais de 100 anos e, apesar do estuque a cair, vê-se que é um edifício com boa construção. Lá por dentro não sabemos, espreitando pelos vidros partidos apenas se vê uma boa escada em madeira de acesso aos pisos superiores.
Não tem nenhum aviso de obra nem nenhum cartaz de imobiliária. Ou seja, os proprietários não parecem ter planos para o futuro. Talvez estejam apenas a fazer contas. A cada dia que passa, o local vale mais um pouco. Já vale uma fortuna, só o chão.
Antes deste edifício apodrecer, a Câmara Municipal de Lisboa podia e devia tomar conta dele. A lei permite que o faça, principalmente se se considerar que está abandonado e sem préstimo. Remodelá-lo e pô-lo no mercado de arrendamento a preço justo. É isso que a CML já devia ter feito. Neste caso e nos 3 mil e tal edifícios devolutos espalhados pela cidade. Tanta gente sem casa e tanta casa sem gente.