Muitos de nós éramos jovens quando Simone de Oliveira se aventurou pela Europa a cantar. Acompanhava a seu modo os portugueses que fugiam à pobreza, de mala de cartão. Hoje são mais de 5 milhões espalhados pelo mundo. Mas, 50 anos depois, ainda há quem teime em sonhar com o passado. Quando as mulheres não podiam votar, nem sequer sair do País sem autorização do marido.
Simone de Oliveira foi um furacão nesse Portugal a preto e branco, onde ter um telefone fixo ou um automóvel era um privilégio. Um Portugal de meia-dúzia de famílias que nos enfiaram numa guerra colonial para defender os seus monopólios. Onde milhares de jovens portugueses morreram para defender territórios para onde só se podia ir trabalhar com carta de chamada.
Conheci Simone quando era casada com Varela Silva. O homem compreensivo que suportava o seu exagerado gosto por jóias. Que a esperava noite fora vinda dos espectáculos. Que a idolaterava e muito bem.

Também eu me sentei, no Scarllaty Club, embevecido a ouvi-la cantar os poemas geniais de Ary dos Santos e o “Ne me quite pas” de Brel.
Simone tem tudo o que de melhor se encontra numa pessoa, numa mulher. Não interessa a idade. Basta observá-la. A coragem de afrontar, cair, levantar-se e continuar com mais força e encanto. Feliz aniversário. Um beijo. E muitos mais anos de vida.