Espírito Santo e Salazar

O improvável aconteceu com Quim Barreiros a tornar-se num “cantor de intervenção”. O homem das brejeirices ataca agora os banqueiros e as off-shores. Como já o teria feito, por certo, Zeca Afonso se fosse vivo.

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Quim Barreiros sabe que a sua canção será tão popular em certas zonas da sociedade portuguesa, como tem sido o “cheira a bacalhau” e outras coisas assim.

Ele  é  próximo de um certo povo, também atingido pelos desmandos dos banqueiros que gozavam de grande reputação. Guardavam o nosso dinheiro. Eram o “ai-Jesus”.

Todos se embasbacaram com o virtuosismo do primeiro Espírito Santo, José Maria do Espirito Santo Silva. Nascido no número 72 da Travessa dos Fiéis de Deus, no coração do Bairro Alto, foi deixado na Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e registado como filho de pais incógnitos. 

Claro que a história foi adoçada durante anos e nunca se revelaram as ligações futuras da família Santo ao espírito de António Salazar. O ditador era tido como um homem muito sério, enterrado até em campa rasa. Tudo o que dizia era considerado palavra de pai.

Mas em rigor o que António Salazar ofereceu aos portugueses foi um naipe de capitalistas sem escrúpulos que defraudaram o povo português e o capitalismo. 

Por isso, os banqueiros viraram agora letra de sucesso de Quim Barreiros. E não parece que o cantor tenha andado a ler cartilhas políticas. Porque esses têm deixado o assunto passar quase em claro. E porquê? É um mistério! Valha-nos Quim Barreiros. 

“O povo deposita no banco
E o dinheiro foge aos milhões
Depois pra pagar as dívidas
Sobem impostos, baixam pensõesDepositei dinheiro no banco
Pensei que estava seguro
Quando acabou o prazo
Nem dinheiro e nem juroQuando eu for grande não quero ser ladrão
Quero ser banqueiro, que senão vou pra prisão
Quando eu for grande não quero ser ladrão
Quero ser banqueiro, que senão vou pra prisãoE eu fui levantar dinheiro
Virou justificação
Olharam bem para mim
Como se fosse um ladrãoTive que me identificar
Para uns euros depositar
Mas para offshores
Milhões podem voarQuando eu for grande não quero ser ladrão
Quero ser banqueiro, que senão vou pra prisão
Quando eu for grande não quero ser ladrão
Quero ser banqueiro, que senão vou pra prisãoA desculpa é fuga aos impostos
Pra ampliamento de capitais
É conversa da treta
Cada vez nos lixam maisTribunais e julgamentos
Temos circo o ano inteiro
Ninguém vai pra cadeira
Nem o povo vê o seu dinheiroQuando eu for grande não quero ser ladrão
Quero ser banqueiro, que senão vou pra prisão
Quando eu for grande não quero ser ladrão
Quero ser banqueiro, que senão vou pra prisão” – Quim Barreiros

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