Sempre que chove muito, a baixa de Cascais fica inundada. Acontece com frequência, talvez aconteça todos os anos. Mas já houve inundações terríveis, que causaram prejuízos e mortes. A 26 de novembro de 1967 e devido a elevadas precipitações num curto espaço de tempo originaram cheias rápidas em diversas áreas do concelho, com elevados prejuízos materiais. Em 19 de novembro de 1983, a baixa de Cascais foi de novo fortemente afetada, com elevados danos materiais e vítimas mortais. Episódios semelhantes ocorreram novamente em 2008, embora com consequências menos gravosas.
Para além das vítimas mortais, para as quais não há remédio, os maiores sacrificados são os comerciantes que, sempre que a zona fica alagada, ficam com as lojas inundadas, equipamentos avariados e stocks estragados.
A culpa disto acontecer não é da chuva. Nem da ribeira das Vinhas que desagua precisamente ali na praia do peixe e que chega encanada ao mar. A culpa é de quem construiu em leito de cheia, como é o caso. Aquelas casas não deveriam estar ali. Em zonas onde existe perigo de calamidade natural, como são as cheias ou os galgamentos marítimos, não deveria haver construções permanentes nem ocupação humana massificada. Não é o que acontece na baixa de Cascais.
Hoje, mais uma vez, a chuva intensa e prolongada coincidiu com a maré alta, o escoamento das águas pluviais para o mar não se fez e a baixa de Cascais ficou alagada. Há dezenas de restaurantes com prejuízos em equipamentos com motores elétricos, lama a rodos, mobiliário afetado, muita coisa para recuperar ou substituir, para além dos prejuízos por estarem encerrados devido às medidas de combate à pandemia.
A engenharia não faz milagres. A solução para a baixa de Cascais seria aquela que ninguém está ainda preparado para assumir. O que só acontecerá quando as alterações climáticas e a subida do nível médio do oceano a isso obrigar. Um problema para a próxima geração. Hoje empurramos esse problema com a barriga e pensamos “que se lixe”.