Cuidado com o que põe no Facebook

0
2931

O medo de ter opinião está a entranhar-se na sociedade portuguesa por culpa da Justiça. Quem pode beneficiar com isso são aqueles que preferem viver sem crítica e sem escrutínio popular.

Vejamos o caso do primeiro-ministro António Costa que, de repente, pode ficar com a sua vida política feita num oito. Deixou-se seduzir pela síndrome de Marcelo -que a todos acode e a todos perdoa-  e meteu-se na lista de apoio a Luís Filipe Vieira no Benfica.

O jornalista José Gomes Ferreira saiu a terreiro e zurziu Costa numa intervenção na SIC. O vídeo foi partilhado e eu coloquei-o no meu mural. Passadas 5 horas fiquei impressionado. Nenhum dos meus quase 5 mil amigos de Facebook tinha deixado qualquer marca de crítica positiva ou negativa. Ou de simples leitura.

No vídeo, José Gomes Ferreira explica – com argumentos claros – a incongruência de António Costa fazer parte de uma Comissão de Honra de um homem que está pejado de processos e dívidas. Naqueles poucos minutos, ficamos a par de pormenores inauditos. Até parece uma teoria da conspiração. Mas não é.

Os casos judiciais são cada vez mais complexos e já só faltam alusões à Turquia, ao molho tártaro, ao cozido à portuguesa ou coisa assim. Tudo pega em tudo. E a Justiça arrasta-se pelos processos que implicam alguns senhores. A dada altura, nas suas intervenções, José Gomes Ferreira já parece um vidente. Quando não é.

A Justiça portuguesa tem sofrido enormes reveses e tem-se desforrado de quem denuncia a má Justiça. Por exemplo, um juiz de família pode dizer uma coisa em Tribunal e sentenciar exactamente em contrário. E não lhe acontece nada.

Um juiz pode pedir favores a presidentes do Tribunal da Relação e não serem divulgados os nomes dos juízes coniventes. Os serviços secretos podem ter escutas e provas sobre traficâncias, mas nunca servirão para nada, porque a escuta não foi pedida por um… juiz!

Este caso de António Costa revela uma ingenuidade assustadora. E é incrível como envolve o inventor da “geringonça”, o mágico Costa livrou-nos de Passos mas cai agora numa enorme esparrela.

O exercício da causa pública, a política, transformou-se num exercício semelhante ao futebol. E o resultado está à vista. Misturaram-se de forma, diria, escandalosa. Diria. Mas não digo. Porque também estou a ficar intimidado pelo facto de todos terem fingido que não viram a minha partilha sobre José Gomes Ferreira. Já senti este incómodo noutras ocasiões.

Quando coloquei um vídeo sobre os refugiados sírios. Ou outro sobre miúdos levados sozinhos a Tribunal, porque entraram sem ninguém e de forma ilegal nos EUA. Ou até sobre Afonso Dhlakama, morto na Gorongoza porque se tornou incómodo.

Eu pûs. Mas ninguém disse nada. E os posts ficaram como marcos num deserto imaginado erradamente por Mário Lino. Lembram-se? Mas se eu colocar um pôr-do-sol. Ou uma garrafa de vinho. Ou a foto do meu labrador… chovem likes e comentários.

Eu julgava estar a viver num País livre. Mas afinal estamos numa cidadania de precaução. Já premonitou Batista Bastos, o jornalista de má-língua, que tanta falta nos faz. Estamos todos a enterrar a cabeça na areia. A matar a liberdade. E a maravilha de podermos falar, criticar e ouvir.

A culpa é dos Tribunais com o peso da corporação e do Centro de Estudos Judiciários (CEJ). Os processos dos ricos e dos poderosos arrastam-se anos e permitem que um homem sob suspeitas graves concorra à presidência de um clube, arrastando um primeiro-ministro. E António Costa lá vai. Ingénuo ou talvez não.

Um conselheiro tipo Marcelo deve-lhe ter dito: só há um País, isto é um barco e o único que não rema é Paulo Morais. Reme senhor Primeiro Ministro.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui