A história do velho abandonado pelo filho no cimo de um monte foi a principal pista que encontrei para descobrir os culpados pela trágica morte de 18 idosos num lar em Reguengos.
Nas últimas décadas, os filhos têm deixado os pais a apodrecer em depósitos. Sedados com Xanax, alinham-se frente às televisões da Fátima, da Júlia ou da Cristina, que sugam a miséria alheia para se tornarem milionárias.
Porque dão trabalho, porque as casas são pequenas, porque não se entendem com os filhos e os filhos não querem saber dos pais.
As famílias desfazem-se com facilidade. Os pais divorciam-se e os filhos irão pelo mesmo caminho. Ou porque as mulheres ressonam ou os homens não arrumam a loiça ou porque não gostam de sopa de feijão. Motivos muito importantes
Não existem dados exatos sobre o número de divórcios em Portugal. Mas há quem garanta uma taxa 65 por cento ou mais.
Os queixumes são antigos e já foram avaliados, de diversos modos, há um século, por escritores notáveis como Eça de Queirós ou Ramalho Ortigão. Eça de Queirós disse que o mal estava na falta de cultura e afectos. Marcelo bem tem tentado, mas os portugueses continuam a apostar mais nos milagres de Fátima e nas alegrias do futebol.
Fomos endrominados e semeámos cidades ao vento. Tudo distante. Escolas, piscinas, cafés, comércio, ruas e praças. Hoje há quem more em Torres e trabalhe em Lisboa ou viva na Costa da Caparica e tenha emprego em Sacavém ou more em Felgueiras e labute em Braga.
Por causa das modernices e de tantos popós e viagens, encaixotamos os pais num lar e trancamos os filhos na escola das 9 da manhã às 6 ou 7 da tarde.
Viajamos engarrafados nas estradas de Cavaco e nos comboios onde fazem falta as carruagens da Sorefame. Cavaco achou mais rentável vender a Sorefame à Bombardier, que acabou com… a Sorefame.
Em breve seremos os próximos xaropados, metidos em lares a ver as mulheres bimbas na televisão. E quando aparecer o Covid-31 ou 41 ficaremos sem sopinha, sozinhos e abandonados. E a culpa será de quem? De algum senhor José? Não! A culpa será nossa! que alimentámos o “negócio do abandono de quem nos deu vida”.
Que vergonha!
Numa contabilidade em constante atualização, até ontem havia registo de 1547 pessoas com mais de 70 anos mortas pela infeção covid-19.
Há uns dias a ministra da saúde reconheceu que cerca de 40% das mortes registadas em Portugal por covid-19 são de residentes em lares de terceira idade.