O muro

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Lisboa têm agora um longo muro que mais parece uma prisão de oito andares em Alcântara, em cima do Tejo, e que marca o arranque da segunda fase da recente especulação imobiliária da cidade. O muro é a parede exterior um hospital privado e é considerado uma aberração.

Naquele local existiu a estação de recolha de camiões de lixo da Câmara e, por obra e graça de Pedro Santana Lopes, acabou na mão dos privados.

A ideia era construir um pequeno bairro típico com assinatura de um arquitecto famoso. Mas a volta foi dada. O mesmo aconteceu no Parque Mayer que nada valia quando foi comprado pelo senhor Névoa.

No Parque Mayer também entrou em cena Pedro Santana Lopes. Veio a ideia de colocar ali um Casino para reanimar o Parque e… zás! O Senhor Névoa trocou o seu Parque já valorizado por metade dos terrenos da Feira Popular. Mas isso é outra história, para contar mais tarde.

Os lisboetas já se habituaram a estas magias. Mas, apesar disso, vai ser difícil engolir aquele hospital que mais parece uma enorme prisão. Uma gigantesca bomba urbanística numa cidade gentil e rendilhada, como Lisboa.

A enorme muralha que agora se ergue em Alcântara transforma a zona num pavor, que nem a prisão de Alcatraz. E parece ter um objectivo claro. Abrir caminho às construções que já começaram junto à Ponte, na antiga fábrica do Açúcar – Sidul.

Consta que ali serão construídas três torres gémeas, para implodir urbanisticamente a zona ribeirinha ocidental de Lisboa, de casario baixo, muitas vezes modesto, mas típico e muito nosso. Aquelas construções aumentarão 100 vezes o número de automóveis numa zona imaginada para fruição. Iremos fruir para Loures, sem Tejo.

Porque ali vão aparecer centenas de apartamentos que ninguém conseguirá comprar, mas que serão vendidos não se sabe a quem. Parece um trocadilho mas tem sido uma constante nas últimas dezenas de anos.

Já o hospital nem sequer aproveita a vista panorâmica, no lado da frente, virada ao rio, numa primeira linha. Ou seja por detrás é um enorme e assustador muro. Pela frente é uma muralha branca com dois pirexes de vidro pouco generosos. O hospital é marca CUF – Companhia União Fabril, um grupo que vem dos tempos do salazarismo.

O País não precisa de tantos hospitais privados, porque pode financiar generosamente o Serviço Nacional de Saúde com os muitos milhões das lotarias, raspinhas e euro milhões..

Em resumo, temos centenas de prédios em ruínas ou desabitados em Lisboa e nas cidades e vilas do nosso País. E temos um Serviço Nacional de Saúde a precisar de se municiar para a segunda vaga de Covid-19. E o que fazemos? Nada! Alguém consegue explicar este contra senso?

O País podia seguir a política da Sesmarias (de 1382), que a Catalunha pôs agora em prática. Ou seja, os proprietários que não alugam as casas recebem metade das rendas de mercado durante 10 anos e ainda pagam uma valente multa.

Mas por cá nascem como cogumelos hospitais privados e apartamentos para ricos em tempo de vacas magras..

O País tem agora 750 mil desempregados.

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