Há uns anos, os jornais e as televisões começaram a insistir em notícias alarmantes, não apenas sobre guerras ou atentados ou as falcatruas dos políticos, mas também sobre problemas ambientais. Foi a história da baleia morta que deu à costa numa praia espanhola com 29 quilos de plásticos no estômago ou as imagens dos enormes aterros a céu aberto onde se depositam milhões de toneladas de plásticos todos os dias ou o mar tépido da Indonésia cheio de plásticos flutuantes. Enfim, o horror, um Mundo a ficar soterrado e envenenado por plásticos.
A resposta da opinião pública europeia foi assertiva. A reação ao problema dos plásticos foi interessante. Surgiram várias organizações e movimentos, surgiram novos líderes e novas ideias.
Setecentos e cinquenta mil europeus assinaram uma petição contra a produção indiscriminada de plásticos que invariavelmente vão parar aos aterros, poluir os cursos de água e matar animais marinhos.
Em 2017, havia outdoors por todo o lado, imagens chocantes na imprensa, multiplicaram-se as conferências e as manifestações, formou-se opinião sobre estas questões.
Alguns meses mais tarde, em janeiro de 2018, a Comissão Europeia adotou uma proposta relativa aos plásticos que propunha medidas sem precedentes para reduzir os resíduos de plástico, incluindo a proibição de alguns plásticos descartáveis. A proposta seguiu para o Parlamento Europeu.
Em 2019, foi finalmente aprovada uma nova lei na União Europeia, que proíbe alguns dos piores plásticos em termos ambientais. As palhinhas, copos e talheres de plástico irão desaparecer já em janeiro de 2021.
A história, porém, ainda não acabou: neste momento, esta proibição de plásticos descartáveis está a ser implementada e promulgada em todos os países da UE, incluindo Portugal. Mas embora se trate de uma diretiva europeia, a implementação é da responsabilidade de cada um dos governos nacionais. E a industria está a tentar aproveitar oportunidades que sempre surgem circunstancialmente, com governos menos sensíveis com as questões ambientais.
A industria procura aliados por todo o lado, em Portugal o último movimento foi o da AHRESP, uma associação da hotelaria, que alega que a lei vai agravar a crise que surgiu com a pandemia covid-19. A crise é verdadeira, o argumento não. A crise existe porque a doença dificulta a concentração de muitas pessoas no mesmo local, atrapalha o turismo, obriga a novas regras de distanciamento físico e a novos hábitos de higiene e de comportamentos. Não tem nada a ver com o plástico. Mas a pressão sobre o Governo para protelar a entrada em vigor da Lei é evidente.