É preciso acreditar…

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É preciso acreditar, na voz de Luiz Goes

Eis o título duma canção de Luiz Goes que, em nova versão que me chegou hoje, muito me sensibilizou: até por que tive a felicidade de privar com o autor, médico e humanista como eu, e um cidadão exemplar e artista de rara sensibilidade que, talvez pela sua integridade e independência, depressa “passou de moda”.

Os autores do vídeo – boa gente de Coimbra isolada em tempos de pandemia – mais do que uma homenagem ou evocação, ousaram soltar um grito de alerta: “É preciso acreditar, que há de chegar a hora em que nos vamos abraçar de novo”.

Encerrados três minutos de oiro com esta mensagem de esperança, tão oportuna como necessária, encorajaram-me eles, logo pela manhã, a escrever uma crónica diferente.  Depois de meses e meses a denunciar graves falhas, erros e omissões na condução dos destinos do nosso país, é tempo de acreditar, mesmo que por entre as brumas da minha memória registe diariamente cenas que, ó Pátria, não levantam o esplendor de Portugal: refiro-me, entre outras trapalhadas, às repugnantes digressões à Holanda e Castela de altos responsáveis ou a cenas incríveis na gestão de saúde pública. Mas para quê continuar nesse registo negativo se, sem qualquer resultado, e sobre matéria sanitária, já em março avisava: “António Costa, pára, escuta e olha!…”

Difícil, no entanto, alimentar este meu otimismo matinal, quando aguardo, entre outras decisões sobre pretensos “crimes” que me são imputados, da decisão de uma vultuosa coima da ASAE que, numa “oportuna” primeira visita ao agroturismo que criei, e que merece classificações excecionais, entendeu ordenar “repor uma placa de proibição de fumar”, em parede exterior que estava a ser pintada. E também aplicar uma “pastilha” de milhares de euros, por tão grave e única infração…

Esquecidos hoje os contratempos, é meu desejo transmitir-vos apenas boas notícias, quase todas INCRIVELMENTE ignoradas pela comunicação social, mas que poderão contribuir para que possamos acreditar no futuro deste nosso Portugal.

Desde logo, realço a evolução do Museu de Arte e Colecionismo de Cantanhede, uma realização única no mundo e que, para além da preservação do nosso património artístico e histórico, muito poderá contribuir para o progresso daquela cidade. E o mesmo se passa em Setúbal, com a criação de um espaço ligado à arqueologia. Aproveito ainda para anunciar a criação do “Museu do Avental”, uma homenagem à mulher alentejana que, com essa indumentária tradicional, assim expressava o sua arte e orgulho, que não submissão ou obediência. Fosse outro tipo de aventais…

E por falar em mulheres, não resisto a falar das “manas Mortágua” por quem não morro de amores, mas com que me agradaria confraternizar, até para lhes repor algumas verdades, olhos nos olhos. Qualquer poder ilegítimo, como o do Estado Novo, legitima uma resistência proporcionada. O pai delas, Camilo Mortágua, hoje vilipendiado nas redes sociais por certa direita trauliteira e inculta, foi dirigente da LUAR, quase uma espécie de braço armado do PS durante o PREC. Era um patriota e pessoa de bem, com quem tive reuniões na defesa da democracia e de uma sociedade mais justa e que nos merece respeito.

Outra boa notícia foi a receção nas redes sociais ao meu comentário anterior “País de racistas?…”. Tendo merecido centenas de aplausos e apenas duas ou três críticas, assentes em erros de interpretação, deixo-vos agora parte da comovente prosa que aquela portuguesa, que como muitas outras deixámos para trás, me endereçou.

Com a permissão de Nawik Saraiva, tenho a certeza de que nenhum patriota português, seja de direita ou de esquerda, me contestará:

“Há dias, refleti sobre como certas pessoas têm o poder e a capacidade de cruzar o nosso caminho e deixar marcas tão poderosas, ao ponto de mudar o curso de nossa vida. Depois do texto que sobre nós escreveu, e ainda que tenha sido breve o nosso encontro, pude comprovar  a sua sabedoria, a sua paixão pelas pessoas e culturas e profissionalismo. O Dr. marcou a minha jornada nesta vida, enchendo-me de esperança e vontade de viver, fazendo-me crer que ainda existem médicos humanos e comprometidos com a verdade…”

Finalmente, outra boa notícia, é que nos próximos dias receberei seis músicos laureados em 2020, provenientes de diversos países e que, em confinamento e sem concertos, escolheram Portugal e a segurança da Casa da Urra como o local mais apropriado do mundo para umas semanas de lazer e criação. Tendo eu consultado a Internet, e para se ter ideia de uma iniciativa totalmente ignorada, posso anunciar que o menos “popular” desses artistas tem mais de 400 milhões de visualizações, na Internet. Em plena vindima e laboração da adega, por certo adorarão uma estadia e culinária imperdíveis, assim contribuindo para erguer Portugal.  

Como cantou Luiz Goes, é preciso acreditar, ainda que seja chocante o silenciar da comunicação e a irresponsabilidade e impreparação de muitos que administram os nossos destinos.

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