Polícia bom

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É evidente que esta imagem traduz uma atitude intolerável.

A primeira versão deste tipo de palavra de ordem que eu conheço data do século XVIII ou XIX, quando a tropa americana que andava a dizimar índios dizia que “índio bom é índio morto”.

Naquela época não havia o conceito de racismo, e os soldados americanos conquistavam terra que tinha dono e matavam sem pudor os indígenas.

A conquista e a colonização dos territórios que vieram depois a constituir os estados Unidos da América foi feita à custa do genocídios dos índios norte-americanos… o que aconteceu na América talvez tenha sido muito pior do que aconteceu com as colonizações em África e na Ásia, porque na América os índios foram reduzidos à ínfima expressão, são hoje um povo diminuto e sem voz política e esse crime imenso ficou sem castigo…

Índio bom é índio morto…

A expressão é tão forte e transmite tanto ódio que foi depois adotada por vários movimentos políticos e ativistas.

Não me custa acreditar que os nazis a tivessem usado… judeu bom é judeu morto.

Não me custa acreditar que o Ku Klux Klan diga que negro bom é negro morto.

A versão “polícia bom é polícia morto” creio que surgiu nos grupos mais radicais de defesa dos direitos da população negra nos Estados Unidos… por oposição aos fascistas e racistas brancos.

Trata-se essencialmente de uma guerra de palavras feias que apelam a sentimentos feios.

Agora, a mesma frase apareceu numa manifestação contra o racismo e a violência policial e há quem tente reduzir a manifestação a esse cartaz. Mas olhem que não… havia mais mil cartazes nessa manifestação que não desejavam a morte de ninguém…. E, porventura, nessa manifestação, havia muita gente que já foi vítima de violência policial direta ou indiretamente.

A associação sindical dos profissionais da polícia de segurança pública, o sindicato mais antigo na PSP e, creio, ainda o mais representativo, condenou esse cartaz e mais alguns que por lá apareceram com o mesmo teor e fez queixa no ministério público por incentivo ao ódio…

Eu não só acho que a ASPP fez muito bem como também acho que devia fazer o mesmo contra os vários tipos que se dizem polícias e que incitam igualmente ao ódio em mensagens, comentários e posts de vários grupos racistas no Facebook…

Eu gostaria também que a ASPP não desse nenhum tipo de cobertura institucional a atos como o que levou à morte de um homem ucraniano detido no aeroporto pelo SEF e que foi encontrado morto com as mãos e os pés atados…

E gostaria que a ASPP tivesse defendido o polícia sindicalista que corajosamente confirmou a existência na polícia de atos racistas e de violência contra os cidadãos. Manuel Morais é um homem íntegro, era vice-presidente da ASPP, mas não mereceu o apoio dos seus pares… e isto, mais do que tudo o resto, mostra bem que há muita coisa para mudar na polícia.

Voltando à vaca fria… o cartaz de que se fala é uma provocação, não favorece a causa dos que lutam contra o racismo, beneficia a extrema-direita que encontra neste tipo de cenas o seu palco para propagandear as suas alarvidades.

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