Impala morta em Ranholas

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Ranholas, Sintra, vai ter menos uma empresa e aquele edifício icónico que se avista no final da IC-19 à esquerda de quem vai para São Pedro de Sintra vai ficar devoluto, certamente.

O edifício é o orgulho do patrão Jacques Rodrigues que o mandou construir quando a vida lhe corria bem. Talvez agora possa ser adaptado para outra função, mas vai ser difícil. Também o antigo armazém de bananas de Carnaxide continua com letreiros de “vende-se” desde que a SIC se mudou.

Aquilo que já se chamou Impala, faliu. O funeral tem sido adiado sucessivamente, mas já não há alma nem ânimo nem esperança. Depois de ter pedido a aprovação de um Processo Especial de Revitalização em 2017 (apesar dos 7 milhões de euros de lucro em 2016), os problemas financeiros não pararam de se agravar. Agora, a pretexto da pandemia covid-19, a Impala tentou o “esquema” de solicitar o lay-off simplificado, pretensão recusada porque a empresa tem dívidas à Segurança Social.

Segundo publicou agora o jornal Expresso, a Impala voltou a pedir um novo Processo Especial de Revitalização (PER) para evitar a insolvência. O edital do novo PER deu entrada este domingo no portal Citius, deixando nas mãos do Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa Oeste a decisão sobre a sua aprovação.

As dívidas da Impala (a empresa mudou de nome, entretanto, agora designa-se DescobrirPress) ascendem a mais de 50 milhões de euros. Boa parte da dívida é a empresas gráficas, mas a lista de credores tem 351 nomes. Mais de dois quintos dos credores (81,4%) são funcionários ou antigos trabalhadores, adiantou o Diário Económico em fevereiro, que têm a receber 6,5 milhões.

Da lista de credores também constam personalidades como o antigo futebolista Luís Figo, a jornalista e apresentadora Manuela Moura Guedes e a também apresentadora Sílvia Alberto, resultantes de decisões judiciais. A dívida relativa a estes casos, julgados devido a processos contra notícias publicadas nas revistas do grupo, aproxima-se dos 27 milhões de euros, ou seja, mais de metade da dívida total da DescobrirPress, segundo a documentação oficial. A Segurança Social reclama 7,3 milhões de euros. A empresa também foi forçada a solicitar o PER devido à condenação de um pagamento de mais de sete milhões de euros à Lisgráfica. Uma situação que terá o aumentado as dificuldades de acesso ao crédito bancário para reestruturar o passivo.

No final sabemos bem que boa parte dos credores não vão conseguir reaver os seus créditos e só é pena que não seja possível penhorar os bens pessoais do senhor Jacques Rodrigues.

O patrão da Impala nunca respeitou quem contratava para trabalhar. Despedir para ele é como beber copos de água. Abria e fechava títulos sem se preocupar com o destino dos que lá trabalhavam. A minha experiência pessoal é reveladora desse comportamento e pode ser lida numa entrevista recente ao site “Casa das Aranhas”: “… uma experiência surreal na Impala. Fui convidado pelo diretor-geral de Conteúdos, Carlos Ventura Martins, para um novo projeto. Assinei contrato, formei equipa redatorial, fizemos dois ou três números zero e, depois, fomos todos despedidos na véspera de Natal, antes de fazermos três meses de trabalho, sem nenhuma justificação. Apenas porque sim.”

As notícias mais recentes dizem que hoje ou amanhã muitos trabalhadores da Impala vão receber cartas idênticas.  “O grupo Impala, dono das revistas Nova Gente, VIP e TV7 Dias, avançou com um despedimento coletivo”, noticia a TVI24.

O Sindicato dos Jornalistas diz já ter conhecimento do despedimento de 54 pessoas na DescobrirPress, “muitos deles jornalistas”.

Mas sempre foi assim, como já escrevi umas linhas acima. Por exemplo, em 2008 recebi uma mensagem via sms que dava conta do fecho de três revistas e o despedimento de 200 pessoas.

O universo do grupo Impala obteve receitas de 140 milhões de euros em 2016 que permitiram fechar o ano com um lucro de sete milhões de euros, uma subida face aos ganhos de seis milhões no ano anterior. Mesmo que tenham sido os últimos milhões que Jacques Rodrigues ganhou com a revista “Maria”, não tenham pena dele.

1 COMENTÁRIO

  1. Carlos Narciso, também sou jornalista e por isso sei como se sente. Só uma nota: quando fala em diário económico, deve ser jornal económica, acho.
    Já que o primeiro foi-se?, num processo idêntico ao do grupo Impala.
    Mas, já agora, este é apenas mais um dos muitos processos de falência que vêm por aí. Infelizmente! Saúde.

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