Os bodes expiatórios

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Pandemia. SARS-CoV-2. Novo coronavírus. Covid-19. Quarentena. Confinamento. Desconfinamento.  

Todos os dias somos bombardeados  com alusões a estas definições através de conferências, “conclusões”, “doutas reflexões” quiçá de virologistas do tipo Paulo Portas e como já seria de esperar, estavam reunidas todas as condições para a “coisa” descambar, como aconteceu na região de Lisboa e Vale do Tejo.

Depois da situação ficar fora de controlo,  numa tentativa de confundir os mais desatentos, tentam branquear a situação culpabilizando as camadas mais jovens, por não respeitarem o distanciamento social e dessa forma promoverem o contágio. Afirmações feitas pelos mais altos responsáveis da Saúde Pública, dos políticos da Nação, nomeadamente os nossos governantes e pelo PR.

Isto tem apenas um objetivo: desresponsabilizar quem de facto tem grandes e graves responsabilidades pela situação que se vive presentemente na região da grande Lisboa.

Esta responsabilidade tem rostos. O primeiro grande responsável pelo alastrar da pandemia na região de Lisboa é o Governo da República. Um Governo que não tem o mínimo respeito pelo seu povo, não merece o apoio desse povo.

Mas vamos por partes.

1º  Durante o período de confinamento o Governo não conseguiu resistir  às fortes pressões exercidas pelos grandes grupos empresariais e pelas confederações patronais, como foi o caso da chantagem diária exercida nos órgãos de comunicação social pelo Presidente da CIP. Por onde anda esse senhor agora, ao que parece eclipsou-se… hibernou…foi de férias?

2º Com o apressado e pouco ponderado processo de desconfinamneto, o governo não acautelou a segurança e higiene no trabalho das dezenas de milhares de trabalhadores desta região que diariamente tinham de se deslocar em transportes públicos, para os seus empregos. De salientar que a higiene e segurança do trabalho compreende também os percursos de ida e regresso do local de trabalho para a residência.

3º Como foi possível entrar num processo de desconfinamneto da região mais populosa do País, permitindo que os transportes públicos privados, que são quem maioritariamente nesta região presta esse tipo de serviço, tivessem mantido cerca de 50% dos seus trabalhadores em lay-off? O que se deveria exigir a essas empresas é que aumentassem a sua oferta em mais de 120%, uma vez que os 100% já antes da pandemia era em muitos casos insuficiente, como é o caso dos barcos da  Soflusa, das linhas da CP de Sintra e Cascais bem como das diversas empresas de camionagem que servem os concelhos de Loures, Sintra, Oeiras ou de Vila Franca. Só por mera irresponsabilidade e para não afrontar as entidades patronais, o governo colocou-se do lado dos mais fortes, desprotegendo os mais vulneráveis , aqueles que menos têm.

4º  Como se isso por si só não bastasse, aqueles trabalhadores que tendo oportunidade de fazer uso da sua viatura particular, viram-se impedidos de o fazer porque o governo permitiu, em simultâneo e de imediato ao desconfinamento, que os combustíveis tivessem um aumento em cerca de 20% assim como o estacionamento na região de Lisboa passou a ser pago. Decisão contrária ao que se pretendia, por forma a aliviar a carga nos transportes públicos já por si sobrelotados.

5º Não adianta, em atitude de autênticos “chicos espertos”, virem dizer que não é nos transportes públicos urbanos que está a principal fonte de contaminação, porque factos são factos. Senão vejamos: qual a fonte de contaminação? Arranjam mil e uma desculpas esfarrapadas, mas expliquem como alguém chega a casa contaminado, depois de passar 2 ou 3 horas por dia nos transportes públicos de casa para o trabalho e regresso a casa.

Dizem agora que são os mais jovens que estão a descontrolar a pandemia, quando se juntam para festejar a vida. Qual o número de contaminados nos eventos desses grupos, desde o inicio do desconfinamento? Seguramente não deve ultrapassar as quatro ou cinco centenas. O numero de contaminados na região de Lisboa e Vale do Tejo, só no mês de Junho, foi superior a 12 mil.

O que devemos exigir a este governo é que deixe de tratar como “carne para canhão” os utilitários dos transportes públicos, na sua grande maioria trabalhadores com vínculos precários ou contratados à peça por empresas de outsourcing.

Só assim se conseguirá controlar a contaminação do coronavírus.

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